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Fraude dos concursos: veja como funcionava esquema que cobrava até R$ 500 mil
Máfia envolvia uso de tecnologia avançada e movimentações bancárias suspeitas

A Polícia Federal conseguiu identificar e prender uma quadrilha especializada em fraudes de concursos públicos que funcionava como empresa familiar. O grupo tinha base em Patos, no sertão da Paraíba, e chegava a cobrar R$ 500 mil por vaga.
Contando com o uso de dublês, pontos eletrônicos implantados cirurgicamente e comunicação em tempo real durante as provas, os valores exigidos variavam conforme o cargo e a dificuldade do concurso.
Wanderlan Limeira de Souza, ex-policial militar expulso da corporação em 2021, é apontado como líder da quadrilha pelo relatório da PF. Ele era responsável por negociações com os candidatos, coordenar a logística das provas e distribuir os gabaritos.
As investigações apontam que os crimes já ocorriam há mais de uma década. O grupo agiu em concursos como Caixa Econômica, polícias Civil e Militar e até o Concurso Nacional Unificado (CNU).
Wanderlan possui uma ficha criminal extensa, contando com homicídio, roubo majorado, abuso de autoridade e uso de documento falso. Depois de ser expulso da PM em 2021, ele chegou a prestar concurso na Previdência Social, tendo sido aprovado como técnico do Seguro Social.
Ainda segundo a PF, Wanderlan teria se inscrito no CNU em 2024 para provar que o esquema funcionava. Foi aprovado no cargo de auditor fiscal, cargo com salário inicial mais alto, mas não compareceu ao curso de formação.
Outros integrantes da quadrilha eram familiares de Wanderlan, incluindo seus dois irmãos, filho e sobrinha, cada um exercendo funções diferentes. Havia ainda quem não fizesse parte da família Limeira, mas se associou ao esquema.
Conheça os acusados e suas funções:
- Wanderlan Limeira: articular esquema, recrutar candidatos e dividir valores
- Valmir Limeira: coordenar logística, recrutar pessoas e negociar dívidas
- Antônio Limeira: financiou fraudes da filha (sobrinha de Wanderlan), que foi aprovada no CNU 2024
- Georgia de Oliveira Neves: esposa de Antônio, suspeita de ser peça-chave na lavagem de dinheiro.
- Larissa de Oliveira Nunes: filha de Antônio, usada como candidata vitrine no CNU 2024.
- Thyago José de Andrade ("Negão"): investigado por negar valores e lavagem de dinheiro
- Luiz Paulo Silva dos Santos: suspeito de ser o consultor técnico e executor das fraudes. Beneficiado no CNU 2024
- Lais Giselly Nunes de Araújo: companheira de "Negão", diversas aprovações suspeitas em concursos
- Ariosvaldo de Souza Júnior: "Júnior Bh", investigado por intermediar venda de gabaritos e lavagem de dinheiro.
Todos os acusados possuem um histórico de aprovações suspeitas. As mais recentes são as de Lais Giselly, no TCE-PE, e de Larissa de Oliveira, no CNU 2024.
Uma das evidências mais fortes reunidas pela PF está na análise dos gabaritos do CNU 2024, no qual quatro candidatos apresentaram respostas idênticas, mesmo realizando tipos de prova diferentes: Wanderlan, Valmir, Larissa e Ariosvaldo. O feito equivale à mesma chance de ganhar o prêmio total da Mega-sena 18 ou 19 vezes seguidas.
Até o momento do deferimento das medidas cautelares, nenhum dos principais investigados por fraude CNU havia tomado posse. A aprovação de Laís no TCE-PE levou o resultado do concurso a ser suspenso.
