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Abaixo-assinado exige paralisação de mineração de areia em Feliz Deserto

Deslocamento de solo e tremores assustam moradores da cidade do Litoral Sul de Alagoas

Por Malu Arruda* 30/01/2025 15h03 - Atualizado em 01/02/2025 11h11
Abaixo-assinado exige paralisação de mineração de areia em Feliz Deserto
A operadora GeoMineração é a responsável pela extração - Foto: Divulgação

Os residentes da pequena cidade de Feliz Deserto, de cerca de 3900 pessoas, no Litoral Sul de Alagoas, iniciaram uma abaixo-assinado contra a GeoMineração - escritório especializado em consultorias e serviços técnicos na área mineral, ambiental, geológica - por estar operando próximo de casas e comprometendo a estrutura física das residências. A empresa, segundo os moradores, realiza serviços de extração de areia no município.

Segundo a representante do abaixo-assinado, endereçado ao Ministério Público Federal (MPF), no texto de apresentação do documento, disponível para assinatura online, um morador instruído realizou testes de impacto de tremor e constatou o deslocamento do solo e possibilidade de desabamento iminente.

A cidade possui residências com pouca estrutura e a fundação em solo arenoso. Com a operação da empresa em Feliz Deserto cerca de 20 casas já apresentam prejuízos estruturais de acordo com o texto dos moradores. Houve uma reunião entre a empresa e o morador responsável pelos testes, onde ficou acordado a não utilização de rolos compactadores em suas atividades a partir de 20 de janeiro de 2024, por reconhecer os riscos de desmoronamentos, desabamentos e erosão.

Entretanto, para os moradores essa medida não é suficiente, pois para eles o maior perigo é a proximidade das operações com as casas, além do desmatamento e do assoreamento do Rio Canduípe. Ainda de acordo com o texto, o prefeito da cidade, Jorge Nunes (PP) concorda com o desejo da população sobre a paralisação das atividades de mineração e solicitou esclarecimento das operações.

Os moradores de Feliz Deserto exigem paralização imediata das atividades de exploração de areia pela mineradora GeoMineração evitando o somatório de desastres ambientais e civis. Para conhecer o abaixo-assinado clique neste link.

Veja nota enviada pela Geomineração:


NOTA DE ESCLARECIMENTO
A GEOMINERAÇÃO – EXPLORAÇÃO MINERAL LTDA, diante das informações inverídicas veiculadas pelos denunciantes da
empresa, vem a público, prestar os seguintes esclarecimentos:
1. Acusações Infundadas: A empresa tem sido alvo de alegações sem fundamento que relacionam suas atividades
a supostos danos ambientais e estruturais em imóveis da região. Para esclarecer os fatos e comprovar a verdade,
a empresa já ajuizou ação judicial para produção de prova pericial, a fim de afastar as seguintes informações
improcedentes:
▪ Que a atividade da empresa causou rachaduras em residências;
▪ Que há danos ambientais decorrentes da extração mineral;
2. Atendimento aos pedidos dos moradores: A comunidade local esteve na empresa e manifestou preocupação
quanto à utilização do rolo compactador.
Esclarece-se que a máquina foi empregada por apenas UM ÚNICO DIA (13/01/2025), após vários meses de
exploração mineral na área. E que, assim que os moradores solicitaram seu desligamento, a empresa
imediatamente atendeu ao pedido, desligando e retirando o equipamento do local. A empresa reitera seu
compromisso com o bem-estar da comunidade e garante que este equipamento não será mais utilizado naquela
localidade.
Essa decisão da empresa não foi motivada por qualquer necessidade técnica ou risco estrutural, mas sim por
respeito à população, visando manter uma relação de paz e transparência com os moradores. A empresa reforça
3. 4. seu compromisso em atuar de forma responsável e dialogar sempre que necessário, firmando seu respeito com
a comunidade local.
A descontinuação do uso do equipamento reflete o compromisso da empresa com um ambiente social pacífico e
a condução responsável de suas atividades. Paralelamente, a empresa segue investigando a origem das
rachaduras nas residências e adotando as medidas cabíveis. A empresa ingressou com ação judicial para que seja
feita uma perícia oficial nas casas que dizem ter sido afetadas. O objetivo da empresa é provar, de forma técnica
e legal, que os danos não têm nenhuma relação com as atividades da empresa. Assim, ficará claro que as
acusações feitas contra a empresa não são verdadeiras.
Fiscalizações e Regularidade: A Geomineração informa que suas atividades são regularmente fiscalizadas pelos
órgãos ambientais e de engenharia competentes, tendo sido recentemente inspecionada pela Agência Nacional
de Mineração (ANM), IBAMA e CREA, sem qualquer apontamento de irregularidade. Todos os relatórios de
1
5. 6. 7. fiscalização atestam a conformidade das atividades da empresa com a legislação vigente, evidenciando a
ausência de qualquer dano ambiental ou estrutural decorrente de sua atuação.
Encaminhamento de Relatórios à Reportagem: No intuito de garantir a transparência, a empresa encaminhou à
equipe de reportagem os relatórios oficiais das fiscalizações, incluindo o relatório do IBAMA e da ANM, que não
detectaram qualquer dano ambiental ou irregularidade decorrente das atividades da empresa.
Exploração em Propriedade Particular Devidamente Autorizada: A extração mineral realizada pela Geomineração
ocorre em propriedade particular, com todas as autorizações necessárias concedidas pelos órgãos ambientais
competentes. Dessa forma, qualquer alegação de irregularidade não tem fundamento e visa apenas desinformar
a população. As próprias licenças da empresa, estampadas nas placas da entrada da mineração, comprovam a
regularidade das atividades.
Causas Estruturais das Rachaduras: É importante destacar que as rachaduras e danos estruturais observados em
algumas residências da região são anteriores as atividades da empresa na região e não decorrem das atividades
da empresa, mas sim da má qualidade das construções e da utilização de materiais frágeis inadequados em solo
arenoso e sem compactação. Essa prática compromete a resistência e estabilidade das edificações, tornando-as
suscetíveis a fissuras e rachaduras.
Explica-se:
A fragilidade estrutural das residências resulta da escolha inadequada dos materiais de construção,
especialmente da substituição da brita e areia pelo seixo de quartzo e areia fina (abundantes na região e mais
baratos) na composição do concreto. O seixo, por ter formato arredondado e superfície lisa, adere menos à
mistura de cimento em comparação com a brita, que possui superfícies irregulares e se fixa melhor ao concreto.
Isso reduz a coesão e a resistência da estrutura, tornando-a até 40% menos resistente à compressão e à tração do
que o concreto convencional, conforme demonstram estudos sobre a influência dos agregados na durabilidade do
concreto.
Seixos de quartzo utilizados em substituição a brita (foto ilustrativa)
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a) b) Veja-se a foto de uma das casas com o material inadequado:
Foto de uma das casas do loteamento Paraíso do Sul, em Feliz Deserto, demonstrando o emprego de
seixos e areia fina e cimento em substituição à areia, cimento e brita.
Além disso, o uso de areia fina (comum na região) na mistura agrava ainda mais a fragilidade, pois esse
tipo de areia diminui a resistência do concreto e facilita o surgimento de rachaduras, especialmente em locais
com alta umidade e variações de temperatura, como Feliz Deserto.
Essa fragilidade se torna ainda mais crítica pelo fato de as casas terem sido construídas sobre um solo
arenoso e não compactado, que tem baixa capacidade de sustentação e se movimenta com facilidade, o que
pode causar recalques (afundamentos irregulares do solo) e comprometer a estabilidade das edificações.
O uso inadequado desses materiais reduz consideravelmente a vida útil das construções, tornando-as
mais vulneráveis a desgastes prematuros, como a desagregação do concreto, infiltrações e perda de resistência
das fundações. Isso não apenas compromete a segurança dos moradores, como também aumenta muito os
custos de manutenção e reparo, exigindo intervenções frequentes que poderiam ter sido evitadas com o uso de
concreto adequado ao tipo de solo da região.
Segue os estudos científicos publicados sobre esse tema:
ALMEIDA, J. R.; SOUZA, P. H. S. Influência dos agregados na resistência do concreto. Revista IBRACON de
Estruturas e Materiais, v. 16, n. 3, 2023. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/riem/a/PhgGy3shqJsp4rFqjDwKbSJ/. Acesso em: 30 jan. 2025.
SILVA, M. A.; COSTA, L. F. Granulometria dos agregados e suas influências nas propriedades do concreto. Revista
Mackenzie de Engenharia e Computação, v. 20, n. 4, 2022. Disponível em:
https://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/rmec/article/download/11423/7752/51053. Acesso em: 30
jan. 2025.
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A Geomineração Extração Mineral Ltda. reafirma seu compromisso com a transparência e a legalidade, operando
dentro dos mais altos padrões ambientais e técnicos. Reconhecendo a importância da imprensa na divulgação de
informações corretas e imparciais, a empresa apresenta esta Nota de Esclarecimento para garantir que a sociedade tenha
acesso a dados precisos e verdadeiros.
Permanece, ainda, à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais.


*Estagiária sob supervisão