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Caso Pinheiro: Mais 800 imóveis deverão ser desocupados

Bairros atingidos por extração de sal-gema já têm mais de 7 mil moradias abandonadas

Por Tribuna Independente 16/09/2020 09h09
Caso Pinheiro: Mais 800 imóveis deverão ser desocupados
Foto: Pei Fon/Secom Maceió.

Mais 800 imóveis deverão ser desocupados devido à instabilidade de solo nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto. Com estes, o número de moradias desocupadas passa de 7 mil. As áreas que deverão ser afetadas ainda não foram divulgadas pela Braskem S/A. O anúncio foi feito pela petroquímica na terça-feira (15) e um novo mapa das áreas afetadas está sendo elaborado.

Segundo a Braskem, a conclusão de três estudos apontou a necessidade da ampliação de realocação. Ainda de acordo com a petroquímica, mais R$ 300 milhões serão destinados para “medidas de apoio”.

“A Braskem recebeu a conclusão dos três estudos técnicos feitos por instituições internacionais especializadas e independentes. Com base nos potenciais impactos de curto prazo apontados nesses estudos, foi identificada uma área adicional de desocupação estimada em 800 imóveis, o que poderá implicar em gastos estimados de aproximadamente R$ 300 milhões com medidas de apoio. O mapa desta área está em detalhamento junto às autoridades competentes e será divulgado o mais breve possível”, disse a empresa em comunicado.

Conforme documentos obtidos com exclusividade pela reportagem, um dos estudos, produzido pelo Serviço Geológico Francês (BRGM) o fenômeno ainda não foi compreendido em totalidade e reforça a necessidade de acompanhamento, mesmo com o monitoramento da subsidência que vem sendo executado na região. Os especialistas concluíram que a temperatura das cavernas também precisa ser monitorada porque também pode representar um risco. O documento é intitulado “Parecer de especialistas sobre a possibilidade de formação de crateras no Campo de Salmoura de Maceió Relatório Final” com data de janeiro deste ano.

“Em várias cavernas, o teto alcançou o topo da formação de sal e a sobrecarregou, aumentando o receio da formação de crateras. Acima do campo de salmoura, a subsidência ao nível do solo é rápida (pode atingir aproximadamente 20 cm/ano)… Várias cavernas alcançaram a camada de calcário sobrejacente (cavernas 3, 4, 5, 6, 7, 8, 11, 15, 17, 21, 25, 29, 34 e 19 + 7), e outras se sobrecarregaram através de sucessivas quedas do teto (um processo chamado de stoping)”.

Estudo revela que fundo de caverna está acima da formação de sal

“Em particular, as cavernas 7 e 19 coalesceram, e o topo da caverna 7 atingiu uma profundidade de 750 m, 150 m acima do topo do sal. Em agosto de 2019, a Caverna 7 tinha 80 m de altura, e seu diâmetro era de 76,2 m (na direção N-S); o fundo da caverna está acima do topo da formação de sal”, afirma um trecho do documento.

O estudo foi solicitado pela Braskem para determinar qual o risco de abertura de uma cratera nas regiões de salmoura em Maceió. Por fim, os especialistas recomendam “Medições de pressão da cabeça de poço das cavernas, Continuação das pesquisas por sonar sempre que possível, Medição da temperatura das cavernas sempre que possível, Monitoramento de microssismicidade, Acompanhamento da subsidência”.

O caso

O processo de afundamento de solo, apontado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) como decorrente da extração de sal-gema vem afetando mais de 40 mil moradores nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e mais recentemente no Bom Parto. A situação de calamidade pública dos bairros foi decretada no fim de 2018 e renovada por duas vezes, a última no primeiro semestre deste ano.

Desde o dia 3 de março de 2018 quando um tremor de 2,5 na escala Richter foi sentido no bairro do Pinheiro e adjacências a escalada de rachaduras em imóveis e vias não parou de se intensificar.

Em 3 de janeiro deste ano um acordo judicial firmado entre órgãos de controle e a Braskem estabeleceu a retirada de 17 mil pessoas das áreas de maior criticidade dos quatro bairros afetados.  Além de retirar as pessoas, a Braskem deve indenizar. As ações, previstas no acordo podem levar até dois anos para a conclusão.