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Moradores de unidades de conservação contribuem para a sustentabilidade em Alagoas

Milhares de alagoanos mantêm equilíbrio entre renda e proteção ambiental

Por Ascom IMA/AL 06/08/2025 16h04
Moradores de unidades de conservação contribuem para a sustentabilidade em Alagoas
Cerca de 9% da população alagoana vivem em áreas de proteção ambiental - Foto: Ascom IMA/AL

Morar em uma unidade de conservação (UC) é saber que está inserido em uma área muito importante de preservação ambiental, com aspectos essenciais da nossa biodiversidade. Cerca de 9% da população alagoana, de acordo com o censo de 2022 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), faz dessas áreas de proteção ambiental (APAs) sua morada e fonte de sustento.

“Isso só é possível porque o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) categoriza as APAs como unidades de uso sustentável. Em Alagoas, a APA Pratagy, que abrange os municípios de Maceió, Rio Largo e Messias, é a mais populosa, com 82.849 habitantes. A maior parte dessa população está localizada no bairro Benedito Bentes”, disse a gestora da APA Pratagy, Camila Silva.

Uma unidade de uso sustentável é um lugar onde é permitido que os recursos naturais presentes no local sejam utilizados de maneira que contribuam com a conservação, sem deixar de lado o desenvolvimento econômico e social das comunidades residentes.

De acordo com o agrônomo e gestor da APA Marituba do Peixe, Clayton Silva, é comum encontrar vários tipos de atividades econômicas nesses espaços, sendo a maioria delas uma forma de preservar a identidade cultural da região.

“São realizadas atividades como a agricultura familiar de base agroecológica, pecuária e criação de animais, como a meliponicultura [criação de abelhas sem ferrão]. Também há aquicultura, pesca e ecoturismo de base sustentável e comunitária. Na Marituba do Peixe, por exemplo, encontramos ações de reciclagem, como a Oficina de Papel Artesanal”, explicou o gestor.

Além dessas atividades, o extrativismo também é muito importante para várias comunidades rurais e tradicionais de Alagoas, pois garante a manutenção da biodiversidade ao mesmo tempo em que incentiva a conservação de práticas culturais e identidades coletivas. Algo essencial para o futuro dessas sociedades e que é resguardado por essas UCs por meio de seu plano de manejo — um documento elaborado pelo Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), em conjunto com o conselho gestor da unidade e membros da sociedade civil.

“Esse é o principal instrumento de gestão de uma unidade de conservação. Dentro desse documento está inserido o zoneamento dessas áreas. Então, toda vez que o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas recebe uma solicitação de uso dentro de uma UC, é verificado se a atividade solicitada é compatível com a zona em que está inserida. Essa análise prévia é o que garante a preservação ambiental dessas unidades”, ressaltou a geógrafa e gestora da APA Santa Rita, Leila Salustiano.

Mas, além do que é determinado por esse documento, é essencial que a população que habita nessas unidades de conservação esteja ciente do seu papel como guardiã da natureza onde está inserida. Como é o caso do pescador José Antônio, que mora no povoado Cadoz, em Coqueiro Seco, no coração da APA Santa Rita.

“Tiro meu sustento da laguna. Pesco com a rede de tirar caiçara junto com os meus primos, e vivemos disso. A maioria do pessoal ribeirinho aqui vive da pesca. Uns tiram sururu, outros massunim, caranguejo — cada um tem sua fonte de renda. É importante que esse local seja preservado, tanto para nós quanto para as gerações futuras. Por exemplo, todo o lixo que não é orgânico nós retiramos da água para jogar no lugar certo. Já fizemos plantação de mangue em áreas que estavam destruídas e tentamos sempre contribuir com a preservação. É uma troca de favores: a gente ajuda a laguna, e ela nos ajuda”, contou.

Já na APA Catolé e Fernão Velho, a meliponicultura contribui não só com a polinização do remanescente de Mata Atlântica do local, mas também foi uma forma de educar os habitantes da região sobre como é possível gerar riquezas sem devastar o meio ambiente.

“Qualquer pessoa que esteja próxima de uma área de proteção ambiental como essa pode produzir riquezas sem destruir. Você não precisa derrubar nenhuma árvore, precisa educar as pessoas. Aqui em Fernão Velho, hoje, mais de 30 produtores estão mudando suas vidas, fazendo algo extremamente sustentável. A apicultura e a meliponicultura são atividades ecologicamente muito corretas, economicamente viáveis e socialmente muito justas. Para uma área como esta, não vejo outra resposta tão nobre e tão rápida quanto essa”, enfatizou o agrônomo Mário Calheiros, proprietário do Meliponário Fernão Velho e conselheiro da APA Catolé e Fernão Velho.

Segundo ele, as abelhas o ajudaram a enxergar um futuro sustentável para sua família, para a comunidade e também para a natureza.

“Uma mudança ficou bem clara: percebi que, com essas 30 famílias — que vez ou outra faziam algum trabalho de retirada de uma planta, de alguma ave, ou queimadas —, a partir do momento em que passaram a entender essa lógica da vida, de que era possível produzir sem destruir, começaram a atuar como guardiões. Eles nos ajudam não só a produzir, mas também a evitar que as pessoas destruam esse ambiente, que beneficiará a todos”, explanou Calheiros.

Censo 2022

O Censo de 2022, realizado pelo IBGE, revela que 278.830 alagoanos residem em unidades de preservação. A APA Pratagy lidera o ranking como a mais populosa, seguida pela APA Catolé e Fernão Velho, com 70.178 habitantes; APA Murici, com 55.159; APA Serra da Caiçara, com 40.658; e APA Santa Rita, com 20.006 moradores.