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“No descaso, na lama, na vergonha”: ativista denuncia sistema funerário no Cemitério São José em Maceió
Em um vídeo postado nas redes sociais, Jackson Douglas expõe covas escavadas lado a lado, muitas delas reabertas ou utilizadas mais de uma vez

Em meio à dor da perda, famílias estão enterrando seus entes queridos em covas rasas no Cemitério São José, no bairro do Trapiche, em Maceió. Entre amigos e familiares, o ativista Jackson Douglas esteve no local para enterrar um conhecido, o senhor Mário, e o que viu, porém, foi mais do que o luto: foi indignação e abandono em meio à crise funerária que se arrasta há mais de um ano na capital alagoana.
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"Isso aqui é um calabouço", denunciou Jackson em vídeo publicado nas redes sociais, enquanto mostrava ruas tomadas por túmulos esquecidos, com covas que aparentam ter apenas 50 centímetros de profundidade nos corredores e placas desaparecidas. "Isso aqui são tudo pessoas, entes queridos, que já nem têm mais nome. Jogados no meio da rua, sem dignidade, sem respeito".
As imagens mostram covas escavadas lado a lado, muitas delas reabertas ou utilizadas novamente, aparentemente sem o menor cuidado sanitário. Quem não possui jazigo próprio é submetido ao constrangimento de ver seus amigos e familiares sepultados em condições precárias. “Maceió não está massa, está massacrada”, afirma o ativista.
A denúncia de Jackson se soma a uma série de relatos que têm sido recebidos pela Defensoria Pública do Estado de Alagoas (DPE/AL). Em março de 2024, uma matéria publicada pelo Jornal de Alagoas já alertava para o colapso do sistema funerário municipal. Na ocasião, o defensor público Lucas Monteiro Valença, do Núcleo de Proteção Coletiva da DPE, destacou que famílias carentes estavam esperando até três dias para conseguir sepultar seus entes, muitas vezes em covas rasas e completamente inadequadas.
A situação é reflexo da superlotação dos cemitérios municipais, vale lembrar que Maceió perdeu um espaço com a desativação do Cemitério Santo Antônio, no bairro do Bebedouro. O local, agora transformado em memorial por decisão judicial e mobilização de lideranças locais, como Neirevane Nunes, Professor Balbino, Cássio Araújo e membros do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem, não recebe mais sepultamentos. A área foi diretamente afetada pelo afundamento de solo provocado pela mineração da empresa Braskem, agravando ainda mais o déficit de vagas na cidade.
Durante reunião emergencial em 2024, com representantes da Alurb (Autarquia Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Limpeza Urbana), da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra) e da Vigilância Sanitária, foram cobradas providências imediatas, como a abertura de novos jazigos e a ampliação de cemitérios já existentes. Também foi exigida a construção de um novo cemitério municipal, cujo projeto havia sido aprovado pela Câmara de Vereadores no ano anterior. No entanto, até o momento, não houve avanço significativo nas obras.
"Enquanto o prefeito vende ruas, praças e calçadas, o povo pobre não tem nem onde enterrar seus mortos", dispara Jackson Douglas. “Quem tem dinheiro paga um plano funerário. Quem não tem, é enterrado assim: no descaso, na lama, na vergonha.”
O Jornal de Alagoas entrou em contato com as autarquias citadas no processo da Defensoria. Em nota, a vigilância sanitária informou que trabalhos de fiscalização são realizados no local afim de de diminuir os risco à saúde sanitária.
"A Vigilância Sanitária realiza o trabalho de fiscalização com fins de diminuir os risco à saúde sanitária, enquanto os outros órgãos que atuam nas primeiras instâncias. A Semurb é responsável pela licença ambiental e Seminfra pela licitação e respondem por todo o processo em andamento."
De acordo com a Seminfra, foi realizado pequenos reparos, pinturas em alguns cemitérios.
Entramos em contato com a Alurb, mas até o fechamento desta matéria não houve resposta.
