Geral

Psicóloga alagoana lança cartilha pioneira para proteção de profissionais mulheres

Material reúne orientações práticas para que profissionais de todo o Brasil identifiquem e se protejam de situações de assédio e importunação no ambiente de trabalho

Por Vinícius Rocha 16/06/2025 16h04 - Atualizado em 16/06/2025 17h05
Psicóloga alagoana lança cartilha pioneira para proteção de profissionais mulheres
Autora da Cartilha, psicóloga Nicolly Amorim explica que há uma necessidade de orientação sobre situações de risco para mulheres - Foto: Arquivo Pessoal

A portas fechadas, psicólogas têm sido alvo de assédio e importunação sexual por parte de pacientes, geralmente homens, que se aproveitam do sigilo profissional e do ambiente isolado da clínica para cometer esses crimes.

O aumento das denúncias de situações como essa levou duas psicólogas - uma alagoana e outra capixaba - a criarem uma cartilha pioneira no Brasil, com orientações práticas voltadas à segurança de mulheres na Psicologia — que representam mais de 85% da categoria, segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP).

A Cartilha Psis (+) Seguras: Prevenção de assédio a psicólogas, está disponível desde março em formato digital e teve sua edição impressa lançada neste sábado (14), em Maceió, durante o evento Psicoterapia em foco – caminhos para a atuação profissional no Brasil, promovido pelo Conselho Regional de Psicologia de Alagoas (CRP 15) e realizado no Hotel Jatiúca.

O documento traz em suas 40 páginas orientações, cuidados, definições e o contexto sobre as dinâmicas de violência a qual estão suscetíveis as mais de 450 mil psicólogas mulheres em todo o Brasil.

De acordo com Nicolly Amorim, coautora da cartilha, a ideia de produzir um material que possa ajudar mulheres a se protejer dentro do ambiente profissional nasceu a partir da observação do aumento de casos de assédio e importunação sexual vivenciadas no exercício da clínica, especialmente no contexto de atendimentos individuais e da exposição nas redes sociais. 

“Nós observamos esse problema desde 2021, mas desde o fim de 2024 e início de 2025 percebemos um aumento dos relatos, tanto na mídia quanto em grupos de WhatsApp, nas redes sociais e nossa comunidade. Percebemos a necessidade urgente de reunir orientações práticas e acessíveis que contribuíssem para a segurança de profissionais mulheres, que representam a maioria na Psicologia”, afirmou.

Junto à Amanda Cei, profissional do Espírito Santo e também coautora da cartilha, Nicolly fundou PSI (+) REAL, empresa que acompanha psicólogas (os) e estudantes de psicologia com temas que permeiam o universo da categoria, desde assuntos técnicos a questões contábeis, formação profissional e da própria saúde mental dos profissionais com o objetivo de apoiar a construção de uma prática clínica ética, autêntica e realista.

Pós-graduada em Terapia Cognitiva Comportamental, Amorim revela que ela própria já sofreu importunação sexual em atendimentos presencial e online. Este último, em contato com um falso paciente: “Eu já sofri importunação sexual presencialmente no ambiente de trabalho e já sofri uma tentativa de importunação virtual no primeiro contato com um falso paciente e constantemente vemos e recebemos relatos de psicólogas que sofreram com essas situações”.

Piscóloga Nicolly Amorim lançou edição física da cartilha em evento do CRP; Mulheres são 85,7% da categoria no Brasil. Foto: Arquivo pessoal.

“Estamos respondendo à necessidade urgente de orientação prática e acessível sobre como uma psicóloga pode identificar situações de risco, se proteger e agir diante de situações de assédio, importunação ou perseguição. É importante pontuar aqui que muitas psicólogas trabalham como autônomas, por isso não têm um apoio ou respaldo formal de uma equipe ou empresa. A clínica pode ser um trabalho bastante solitário”, completa a profissional.

No documento estão dispostos os conceitos de assédio moral, sexual, importunação e perseguição e stalking. Além disso há orientações sob os cuidados com a exposição nas redes sociais e alertas sobre as chamadas ‘red flags’, que são comportamentos iniciais que podem gerar suspeitas já no 1º contato com um paciente transgressor. Outros pontos abordados são orientações para o contato terapêutico e como profissionais devem se portar em casos de violência, inclusive ressaltando que o sigilo profissional deve ser quebrado nessas situações, a fim de garantir a proteção da vítima, mesmo que ela esteja em um ambiente de trabalho.

“Por isso, acreditamos que a cartilha tem o papel de fortalecer e promover a segurança da nossa categoria. Nós tivemos o cuidado de apresentar estratégias simples, práticas e ao mesmo tempo fundamentais. É um recurso para que as mulheres de nossa profissão se sintam seguras dentro do ambiente de trabalho e que elas aprendam a identificar se está acontecendo alguma das situações listadas na cartilha para interromper imediatamente o contato e tomar as medidas cabíveis”, pontua Amorim, que agradeceu também o apoio da direção do CRP de Alagoas para ampliar o alcance da PSI (+) Seguras e garantir o lançamento do material durante o evento do último sábado.

Ela espera agora que os CRPs e o próprio Conselho Federal atentem-se a essa situação e viabilizem a distribuição da cartilha em todo o Brasil.

Quem quiser obter o documento pode fazer o download através do link a seguir https://www.sympla.com.br/play/cartilha-psis-seguras/2889564, ou encontrá-lo em formato físico na sede do CRP Alagoas.