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Psicóloga alagoana lança cartilha pioneira para proteção de profissionais mulheres
Material reúne orientações práticas para que profissionais de todo o Brasil identifiquem e se protejam de situações de assédio e importunação no ambiente de trabalho

A portas fechadas, psicólogas têm sido alvo de assédio e importunação sexual por parte de pacientes, geralmente homens, que se aproveitam do sigilo profissional e do ambiente isolado da clínica para cometer esses crimes.
O aumento das denúncias de situações como essa levou duas psicólogas - uma alagoana e outra capixaba - a criarem uma cartilha pioneira no Brasil, com orientações práticas voltadas à segurança de mulheres na Psicologia — que representam mais de 85% da categoria, segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP).
A Cartilha Psis (+) Seguras: Prevenção de assédio a psicólogas, está disponível desde março em formato digital e teve sua edição impressa lançada neste sábado (14), em Maceió, durante o evento Psicoterapia em foco – caminhos para a atuação profissional no Brasil, promovido pelo Conselho Regional de Psicologia de Alagoas (CRP 15) e realizado no Hotel Jatiúca.
O documento traz em suas 40 páginas orientações, cuidados, definições e o contexto sobre as dinâmicas de violência a qual estão suscetíveis as mais de 450 mil psicólogas mulheres em todo o Brasil.
De acordo com Nicolly Amorim, coautora da cartilha, a ideia de produzir um material que possa ajudar mulheres a se protejer dentro do ambiente profissional nasceu a partir da observação do aumento de casos de assédio e importunação sexual vivenciadas no exercício da clínica, especialmente no contexto de atendimentos individuais e da exposição nas redes sociais.
“Nós observamos esse problema desde 2021, mas desde o fim de 2024 e início de 2025 percebemos um aumento dos relatos, tanto na mídia quanto em grupos de WhatsApp, nas redes sociais e nossa comunidade. Percebemos a necessidade urgente de reunir orientações práticas e acessíveis que contribuíssem para a segurança de profissionais mulheres, que representam a maioria na Psicologia”, afirmou.
Junto à Amanda Cei, profissional do Espírito Santo e também coautora da cartilha, Nicolly fundou PSI (+) REAL, empresa que acompanha psicólogas (os) e estudantes de psicologia com temas que permeiam o universo da categoria, desde assuntos técnicos a questões contábeis, formação profissional e da própria saúde mental dos profissionais com o objetivo de apoiar a construção de uma prática clínica ética, autêntica e realista.
Pós-graduada em Terapia Cognitiva Comportamental, Amorim revela que ela própria já sofreu importunação sexual em atendimentos presencial e online. Este último, em contato com um falso paciente: “Eu já sofri importunação sexual presencialmente no ambiente de trabalho e já sofri uma tentativa de importunação virtual no primeiro contato com um falso paciente e constantemente vemos e recebemos relatos de psicólogas que sofreram com essas situações”.

“Estamos respondendo à necessidade urgente de orientação prática e acessível sobre como uma psicóloga pode identificar situações de risco, se proteger e agir diante de situações de assédio, importunação ou perseguição. É importante pontuar aqui que muitas psicólogas trabalham como autônomas, por isso não têm um apoio ou respaldo formal de uma equipe ou empresa. A clínica pode ser um trabalho bastante solitário”, completa a profissional.
No documento estão dispostos os conceitos de assédio moral, sexual, importunação e perseguição e stalking. Além disso há orientações sob os cuidados com a exposição nas redes sociais e alertas sobre as chamadas ‘red flags’, que são comportamentos iniciais que podem gerar suspeitas já no 1º contato com um paciente transgressor. Outros pontos abordados são orientações para o contato terapêutico e como profissionais devem se portar em casos de violência, inclusive ressaltando que o sigilo profissional deve ser quebrado nessas situações, a fim de garantir a proteção da vítima, mesmo que ela esteja em um ambiente de trabalho.
“Por isso, acreditamos que a cartilha tem o papel de fortalecer e promover a segurança da nossa categoria. Nós tivemos o cuidado de apresentar estratégias simples, práticas e ao mesmo tempo fundamentais. É um recurso para que as mulheres de nossa profissão se sintam seguras dentro do ambiente de trabalho e que elas aprendam a identificar se está acontecendo alguma das situações listadas na cartilha para interromper imediatamente o contato e tomar as medidas cabíveis”, pontua Amorim, que agradeceu também o apoio da direção do CRP de Alagoas para ampliar o alcance da PSI (+) Seguras e garantir o lançamento do material durante o evento do último sábado.
Ela espera agora que os CRPs e o próprio Conselho Federal atentem-se a essa situação e viabilizem a distribuição da cartilha em todo o Brasil.
Quem quiser obter o documento pode fazer o download através do link a seguir https://www.sympla.com.br/play/cartilha-psis-seguras/2889564, ou encontrá-lo em formato físico na sede do CRP Alagoas.
