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Confira: especialistas sugerem ações para minimizar danos causados por chuvas em Maceió
O Jornal de Alagoas ouviu um engenheiro ambiental, uma geógrafa e um arquiteto e urbanista para detalhar possíveis soluções para dirimir o impacto de uma chuva como a desta quarta-feira

As fortes chuvas que atingiram Maceió nesta quarta-feira (5) provocaram alagamentos em diversos bairros, causando transtornos para motoristas e pedestres, afetando toda a dinâmica da capital alagoana. Em um só dia, choveu em Maceió o esperado para todo o mês de fevereiro, deixando ruas intransitáveis e moradores no prejuízo após a invasão da água em casas e comércios.
O Jornal de Alagoas buscou, nesta quinta-feira (6), a opinião de diferentes especialistas de áreas que lidam diretamente com questões climáticas para apontar ações que podem ajudar na prevenção de eventuais desastres e também a dirimir os danos causados pelo acúmulo de água em uma metrópole urbana como Maceió.
Para o engenheiro ambiental e sanitarista Alan Maío, é importante que haja um cuidado com o desmatamento de modo geral, mas o poder público deve ampliar obras de drenagem e manutenções já existentes. Outro ponto, disse o especialista, é a ampliação da área útil para facilitar a passagem das águas.
“A preservação da mata auxiliar é o que segura os resíduos. Assim, sem a mata, fica sem esse pente fino que ela faz dos resíduos", explicou. O engenheiro também individualiza as responsabilidades, e diz que os cidadãos devem evitar jogar resíduos em locais inapropriados para evitar que esses materiais se acumulem na entrada dos sistemas de drenagem.
A geógrafa, mestre em tecnologias ambientais, Kadja Tavares, detalha as especificidades da capital alagoana: "A situação de Maceió é complicada porque existe uma impermeabilização na planície, onde é uma região historicamente de 'alagadiço'", aponta.

As propostas da profissional seguem uma linha mais técnica e sustentável no sentido de que o poder público possa implementar para auxiliar na qualidade de vida da população.
Kadja sugere, à princípio, a troca de asfalto por superfícies permeáveis - com espaço para passagem da água, em ruas que pudessem receber esse tipo de calçamento.
A geógrafa destaca a necessidade de melhorar a coleta de resíduos nos vales, como, por exemplo, no Vale do Reginaldo, onde a população muitas vezes acaba realizando a disposição inadequada dos resíduos por não existirem locais que facilitem o acesso a uma coleta eficaz.
Ela destaca ainda a necessidade urgente de um plano de macrodrenagem para Maceió, que inclua lagoas de retenção e estabilização. “Pode ser uma solução eficaz para controlar o fluxo das águas pluviais nos córregos da região. Essas lagoas desempenhariam o papel de armazenar temporariamente a água, evitando enchente e melhorando a gestão dos recursos hídricos”, argumenta.
De acordo com Kadja, a implementação de lagoas de estabilização seria a etapa mais desafiadora, exigindo estudos técnicos aprofundados e a possível desapropriação de áreas, o que torna o processo mais complexo.
Em artigo publicado, o arquiteto e urbanista, Dilson Ferreira, reforça mais algumas medidas urgentes que poderiam transformar a realidade da cidade. Uma das soluções propostas é a adaptação da drenagem urbana à topografia local, implementando um sistema de drenagem adequado para cada região, levando em consideração as especificidades geográficas de Maceió.
Outra medida importante seria a substituição do asfalto convencional por pavimentos drenantes, como o asfalto permeável, calçadas porosas e blocos intertravados, que permitem maior absorção da água da chuva, evitando o acúmulo e o alagamento das vias. Além disso, a criação de lagos de retenção em áreas vulneráveis, como foi feito com sucesso em Curitiba.
A preservação e recuperação das áreas verdes também se apresenta como uma das soluções, uma vez que os manguezais também são apontadas como essenciais. Esses ecossistemas naturais desempenham um papel fundamental no controle do fluxo das águas pluviais, funcionando como uma espécie de escudo contra enchentes.
Por fim, diz ele, a aplicação do Plano Municipal de Saneamento Básico, que já existe, mas nunca foi efetivamente implementado, poderia garantir uma solução estruturada e permanente para a gestão de águas pluviais, coleta de resíduos e saneamento básico em toda a cidade. Segundo o especialista, a execução desse plano exigiria um comprometimento das autoridades locais e um investimento substancial em infraestrutura, sendo essa uma das principais ações necessárias para evitar que Maceió continue a enfrentar os graves problemas de alagamentos.
*Estagiário sob supervisão
