Geral

Principal avenida de Maceió pode mudar de nome devido a episódio de intolerância religiosa

Fernandes Lima foi um dos responsáveis pelo Quebra de Xangô, dia em que terreiros e casas de santo em Alagoas foram invadidos e destruídos pela PM

Por Redação* 01/02/2023 14h02 - Atualizado em 01/02/2023 15h03
Principal avenida de Maceió pode mudar de nome devido a episódio de intolerância religiosa
MPAL deve recomendar mudança do nome da Avenida Fernandes Lima - Foto: Secom Maceió

Uma portaria assinada em conjunto por três promotores de Justiça, solicita a instauração de procedimento administrativo para a mudança do nome da Avenida Fernandes Lima, a principal via de transporte de Maceió, capital de Alagoas.

O pedido se dá por causa do mais violento episódio de intolerância religiosa do país, ocorrido em 1912, que recebeu o nome de ‘Quebra de Xangô’ e teve o político José Fernandes de Barros Lima mais conhecido como Fernandes Lima, como um dos responsáveis pelo episódio histórico em Alagoas e no Brasil. 

A medida do Ministério Público de Alagoas (MPAL), pretende verificar se há adequação à normativa de proteção de direitos humanos de regência quando a Avenida Fernandes Lima foi batizada pelo município. Inicialmente, vai ser avaliada a legalidade do batismo da via e, em seguida, a recomendação para mudança de sua nomenclatura deverá ser expedida.

Segundo avaliação dos promotores Karla Padilha Rebelo Marques, da 61ª Promotoria de Justiça da Capital; Dalva Vanderlei Tenório, da 59ª Promotoria de Justiça da Capital; e Lucas Carneiro, da 60ª Promotoria de Justiça da Capital: “o ato de nomeação de espaços públicos, como praças e ruas, perpassa pela necessária ideia de homenagem, não se tratando, portanto, de mero ato administrativo de rotina, com viés discricionário, eis que envolve aspectos sensíveis da memória coletiva, inseridos no âmbito do patrimônio social e cultural e, portanto, assume um protagonismo na (re)construção do passado”.

O que foi o Quebra de Xangô

O Quebra de Xangô ou foi um evento de intolerância religiosa que ocorreu no dia 2 de fevereiro de 1912 na cidade de Maceió, Alagoas, Brasil, consistindo na destruição de terreiros e perseguição, violenta e homicida (genocida), a adeptos e líderes de religiões de matriz africana. Foi liderado por veteranos de guerra e políticos. 

Cem anos depois do fato, em 1º de fevereiro de 2012, Teotonio Vilela, o então governador de Alagoas, reconheceu o massacre e assinou pedido oficial de perdão a toda a sociedade alagoana, em especial aos religiosos de matriz africana. Recentemente, o Estado de Alagoas criou a Delegacia de Crimes Contra Vulneráveis da capital alagoana, que recebeu o nome de Delegacia Especial dos Crimes contra Vulneráveis Yalorixá Tia Marcelina, em referência à mãe de santo que foi espancada após ter seu terreiro invadido durante o Quebra do Xangô.

Tia Marcelina, teve seu terreiro invadido quando falou a emblemática frase: “Quebra tudo, só não quebra o saber” ou, segundo alguns, enquanto era espancada, teria afirmado: “Quebra braço, quebra perna, tira sangue, mas não tira o saber”.

Ela foi homenageada, em 2022, dando o nome, não ironicamente, a uma delegacia. A Delegacia Tia Marcelina é responsável por investigar os crimes contra vulneráveis e minorias.

*Com informações do Gazeta Web.