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No Brasil, um quarto dos mortos por coronavírus está fora dos grupos de risco

Cresce o número de óbitos entre pessoas que têm menos de 60 anos e sem doenças preexistentes

Por O Globo 13/04/2020 08h08
No Brasil, um quarto dos mortos por coronavírus está fora dos grupos de risco
Stephanie Keith/Getty Images

No Brasil, um quarto dos mortos por Covid-19 desde o primeiro registro da doença no país não faz parte dos chamados grupos de risco — ou seja, 25% das vítimas fatais são pessoas com menos de 60 anos e sem comorbidades que agravam os sintomas. Esse número disparou nos últimos 15 dias, segundo levantamento de outra emissora de comunicação feito com base em dados no Ministério da Saúde.

 

O país, então, segue um padrão diferente de nações como a Espanha, a segunda com maior número de óbitos — cerca de 166 mil, atrás apenas dos EUA. No Brasil, a proporção de pessoas abaixo dos 60 anos de idade que morreram pela Covid-19 é mais de cinco vezes maior que a registrada na Espanha (4,6%). Segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde, divulgado ontem, o Brasil tem até agora 22.169 pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus, e 1.223 óbitos. O balanço de sábado contabilizava 20.727 contaminações e 1.124 mortes.

Com base na premissa de que a doença é mais perigosa para idosos e pessoas com comorbidades, empresários e políticos, entre eles o presidente Jair Bolsonaro, vêm defendendo a estratégia conhecida como isolamento vertical, na qual apenas as pessoas consideradas dentro de um grupo de risco seriam submetidas ao isolamento social. O Ministério da Saúde, no entanto, vem defendendo que ainda não é hora de relaxar as medidas de isolamento para todos os que podem ficar em casa.

Secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Jurandi Frutuoso diz acreditar que o aumento dos óbitos entre pessoas fora dos grupos de risco no Brasil mostra que isolamento vertical não faria sentido:

— Se você tem um número cada vez maior de jovens e pessoas saudáveis morrendo da doença, não faz sentido falar em isolar grupo de risco. Não seria eficaz.

Uma das explicações para a mudança de perfil dos mortos no Brasil está no fator socioeconômico, segundo especialistas. Professor do Departamento de Epidemiologia da USP, Eliseu Alves Waldman afirma que o coronavírus está chegando na periferia das grandes cidades, onde a população é “socialmente mais vulnerável”. Antes, tinha atingido apenas setores da elite, com acesso a um melhor atendimento de saúde.

— O coronavírus pode se expandir muito nessa região (nas periferias), porque as condições de moradia são mais frágeis. As casas são pequenas, e há várias dividindo o mesmo dormitório — afirma.

O número de mortos fora do grupo de risco poderia, portanto, continuar a crescer — o que não significa que idosos e pessoas com comorbidades corram menor risco.