Na última quinta-feira (11), foi exibido o episódio final da 2ª temporada de Drag Race Brasil, franquia internacional do reality estadunidense RuPaul's Drag Race, em que elegeu a melhor drag queen do país. O título ficou para a artista Ruby Nox, de 31 anos, que mora em Carnaíba, no Sertão de Pernambuco. Ela foi coroada com um prêmio de R$ 150 mil, um ano de produtos da Anastácia Cosmetics e o tradicional cetro e coroa de Drag Superstar.

Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a primeira da família a entrar em uma instituição pública, Nox começou a se montar ainda escondido da mãe durante a universidade. 

Em entrevista para a CNN Brasil, Ruby contou que ela escondia os materiais utilizados na drag quando a mãe ia pra Recife, por cinco anos, mas não demorou muito para os familiares descobrirem.

Drag queen Ruby Nox, em ensaio fotográfico após vencer
a 2ª temporada de Drag Race Brasil (Foto: Diego Feroni)

"Comecei escondido da minha mãe, por cinco anos. Toda vez que ela vinha a Recife eu escondia tudo. Até que um dia ela descobriu, ficou sem falar comigo, mas hoje ela me apoia. Vai aos espetáculos, é minha primeira crítica. No vídeo de apresentação do 'Drag Race', foi a primeira vez que parte da minha família me viu montada, pessoalmente. Foi muito emotivo. Muita gente se apaixonou pela minha mãe depois daquele vídeo. Apesar de sermos de uma região machista, minha família é um diferencial e me apoia de verdade. Eu amo todos eles", disse a artista.

Ruby teve uma trajetória marcante e cheia de criatividade no reality, tendo como principal base e inspiração os costumes do Sertão, a tradição nordestina, o glamour e o erotismo burlesco, os mitos pernambucanos, sem perder a autenticidade e o bom humor. Tanto é que ela venceu a maior parte dos desafios e foi para final junto com Poseidon Drag, Melina Blley e Mellody Queen, que enfrentou Ruby no último lipsync da temporada e ficou em segundo lugar.

Representatividade e inspiração

Como Pernambuco é vizinho de Alagoas e localizado no Nordeste brasileiro, muitas artistas se sentiram representadas e acolhidas com a conquista de Ruby. Uma delas foi Leviathan Cavalcante, artista que há mais de 7 anos dá vida à drag Leviathan, em Maceió. Para ela, a conquista de Ruby abre espaços para futuras drags nordestinas e pode ser uma inspiração para quem quer participar.

"Ver ela na competição se desenvolvendo, mostrando sua personalidade, sua história, o quanto ela representa para Pernambuco e para o Nordeste, abrindo espaços para futuras drags, é surreal. Ela é merecedora de todo o reconhecimento que está tendo", disse Leviathan, que conviveu com Ruby durante idas e vindas de Recife e os ensaios para o filme "Era uma vez, Diversiones", dirigido por Henrique Arruda.

"Eu sempre digo que pra ser uma drag eu primeiramente fui fã de drags, e continuo sendo. O trabalho da Ruby já me chamava atenção mesmo antes de começar a me montar. Porque eu comecei a vasculhar a internet em busca dessas artistas drags que aqui no nordeste já chamava muita atenção, e a Ruby de cara me pegou. Porque além dela se montar, ela carrega uma mensagem sempre com a montação, e era algo que me pegava bastante porque eu me reconhecia na arte dela. Quando fui para Recife, participei de um ensaio geral do elenco e a vi contracenar com outras artistas: aquela carga teatral me arrepiou por inteira e incentivei ela a se inscrever para o Drag Race Brasil, porque eu sabia que ela iria chegar à final e ganhar", relatou.

Outro artista que celebrou a vitória da drag pernambucana foi Thauã Lucas, de 18 anos, que performa como drag Tiana. Ele se monta há 7 meses, mas já estreou com sua outra persona no dia 1 de agosto deste ano no evento Lipsync Battlle, na capital alagoana. 

"Me sinto muito representada, acredito que não só eu, todas as drags nordestinas que sonham em um dia participar de algo grande como o drag race brasil. Fico muito feliz em saber que a cada dia a arte no geral está recebendo seu devido valor. Espero ver muitas drag nordestinas e obviamente alagoanas conquistando coisas incríveis", declarou Thauã. 

Drag Leviathan Cavalcante, artista de Alagoas. (Foto: Arthur Aldo)

Drag alagoana Tiana, persona de Thauã Lucas. (Foto: arquivo pessoal)

'A gente do Nordeste também consegue'

O maquiador, artesão e drag queen Thaymarlynson Cortez, de 30 anos, está há 7 anos dando vida à drag Aurora Blossom. Ele contou que assistiu à temporada e se sentiu profundamente  tocado com toda a trajetória de Ruby Nox. 

"Cada referência ao Nordeste que ela apresentou foi um verdadeiro deleite, especialmente quando trouxe uma obra de Ariano Suassuna como inspiração, como se uma obra de arte ganhasse vida diante dos nossos olhos. Ruby impactou todas as drags com sua potência e excelência, abrindo portas para que tantas outras possam mostrar nossa arte e nossas raízes. Vê-la vencer a competição me trouxe um gás imenso para continuar, além da certeza de que existe, sim, a chance de uma drag alagoana também conquistar esse espaço", destacou Cortez.

Já o dançarino e DJ de São Miguel dos Campos, Giseldo Carlos, que se apresenta como Gigis Banks, disse que a vitória de uma drag pernambucana faz o mundo perceber que é possível, sim, artistas de outros estados além dos eixos Rio-São Paulo, ganharem uma competição.

"Por um bom tempo tive muito essa percepção de que São Paulo era onde as coisas aconteciam e que, enfim, para se dar bem artisticamente, a gente tinha que ir para lá. Não que não seja uma verdade, eu acho que é uma possibilidade sim, mas com essa vitória da Ruby a gente percebe que não. Pois não importa onde você esteja, em qualquer lugar, você sendo boa, você chega lá. É uma vitória muito inspiradora, porque passa a sensação de que a gente do Nordeste também consegue", pontuou Giseldo Carlos.

Drag Aurora Blossom, persona de Thaymarlynson Cortez. (Foto: cortesia)

Drag Gigis Banks, persona de Giseldo Carlos. (Foto: cortesia)