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Vozes Trans: espetáculo 'Boteco das Travas' entra para a história como pioneiro em AL
Performances foram apresentadas na última quinta-feira (28), no Rex Bar, como culminância da finalização do projeto

Na última quinta-feira (28), o palco do Rex Bar, em Maceió, recebeu o brilho e o encanto do Boteco das Travas, evento realizado como culminância do projeto Vozes Trans, da escola Vox Music Class.
De Ella Fitzgerald à Liniker e Linn da Quebrada, o espetáculo inundou o coração da cidade com notas musicais de bravura e resistência.
June Moreira, Thamansa, Pérolla Brasil, Marina Bonifácio e Gabriela Luz foram as protagonistas de uma performance memorável, com a interpretação de músicas brasileiras e internacionais que emocionaram o público, junto com uma banda ao vivo.
"Elas são as protagonistas, elas têm a voz, e essa voz tem muito a dizer. Então, é de suma importância esse projeto porque têm relação com essas questões sociais. Cada performance que elas vão trazer no palco é um pedaço das suas vidas, histórias, dores, e que ainda assim celebram e resistem", pontuou, Diogo Oliveira, idealizador do projeto e da escola de música. Ele a todo momento, visivelmente emocionado, acompanhava as meninas.
Espetáculo de vozes
O show começou com um vocal coletivo das cinco artistas cantando "Sem nome, mas com endereço", da Liniker e os Caramelows. A música retrata uma declaração romântica ao ser amado e busca pontuar suas características de uma forma apaixonada.
Em outro momento, Pérolla Brasil foi uma das intérpretes que reencarnou a essência da música "Meu mundo é o Barro", de O Rappa, tendo como inspiração o cover feito pela cantora Urias. À capela, Pérolla não só emocionou o público, como também prendeu o olhar do espaço no rasgar de sua voz.
Um dos grandes destaques foi Gabriela Luz, que interpretou ainda timidamente a música Misty, da cantora Ella Fitzgerald. Apesar da timidez, Luz tateou todos os espaços do palco com uma forte presença. Além disso, com um tom de voz agudo e singular, Gabriela se fez entender que o palco é o lugar dela e trouxe mais para perto a graça de Gal Costa interpretando Força Estranha.
Para ela, participar do projeto foi transformador e a encorajou a colocar para fora o que tanto faz naturalmente no dia a dia.
"Cantar sempre foi algo natural pra mim, mas por muito tempo ficou restrito ao meu espaço íntimo, no banho, na cozinha, nos caminhos do dia a dia. Voltar a cantar para os outros exigiu coragem, e eu só consegui porque não estive sozinha", contou Gabriela Luz, que agradeceu o espaço e o incentivo.
"Sou grata às meninas que me apoiaram, ao Diogo que me incentivou e aos amigos que foram me assistir. Esse é só o começo. Quero encontrar cada vez mais confiança nesse caminho e compartilhar mais do meu canto com mais pessoas", declarou.
Celebração às existências
Outro destaque foi Samantha Araújo, mais conhecida como Thamansa. Ela criou cenários ao cantar ao vivo A Coisa Mais Linda da Praia, de Matheus Bezerra, e Abiã, de Mariene de Castro, tornando o espetáculo em uma dança vocal carregada de presença.
Em uma das ocasiões, o microfone de Thamansa não funcionou, mas ela continuou enfrentando o mundo dançando até outro microfone que estava próximo dela, e cantou logo em seguida. A ação foi ovacionada pelo público.
"Foi uma noite que ficou na memória: cada interpretação trouxe sua própria essência e potência, e juntas atingiram uma assertividade impressionante. O encontro dessas particularidades resultou em algo profundamente sensível, poético e poderoso", disse Mayara Lima, que estava na plateia vendo as performances.
O espetáculo foi encerrado com uma interpretação coletiva de Oração, canção interpretada por Linn da Quebrada e cerca de 13 travestis e mulheres trans, como Liniker Barros, Urias e Danna Lisboa.
Ao final do show, as vozes das intérpretes mergulharam a plateia em uma aura que não é possível explicar. A vida estava ali, transbordando em leveza e catarse, completude, como quem pousa no momento de celebração às existências.
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Este projeto foi realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc, através do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo Governo de Alagoas, por meio da Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa (Secult).
Ficha Técnica
Elenco: June Moreira, Thamansa, Pérolla Brasil, Marina Bonifácio e Gabriela Luz.
Banda: Thiago Trindade (guitarra / violão);
Emersom Padilha (contrabaixo); Leonardo Fernandes (teclado); Ivalter Jr (bateria);
Danyel Gibi (percussão)
Recepção: Tha Pedrosa, Júlia Farias e Pedrynho
Realização: Vox music class.
Coordenação Geral e Direção de Arte: Diogo Oliveira.
Consultoria de Projeto e Assessoria de Imprensa: Keka Rabelo.
Texto: Jamerson Soares.
