Cooperativismo
Cooperativas movimentam bilhões e fortalecem economias locais no Brasil
Estudo aponta aumento do PIB, geração de empregos e estímulo ao empreendedorismo
O cooperativismo tem se consolidado como um modelo econômico capaz de promover desenvolvimento sustentável, inclusão financeira e redução das desigualdades em escala global. A relevância do setor levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a declarar 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas. Atualmente, existem mais de 3 milhões de cooperativas no mundo, que reúnem cerca de 1 bilhão de pessoas — o equivalente a 12% da população mundial — e geram aproximadamente 280 milhões de empregos, segundo dados da Aliança Cooperativa Internacional.
No Brasil, o impacto do cooperativismo é especialmente significativo no sistema financeiro. Em um cenário marcado pela concentração bancária e por altas taxas de juros, as cooperativas de crédito ampliam o acesso a serviços financeiros, principalmente em municípios de pequeno porte. O país conta hoje com mais de 743 cooperativas de crédito, que atendem milhões de brasileiros e, em muitos casos, representam o único ponto de atendimento financeiro disponível em determinadas localidades.
De acordo com Manfred Dasenbrock, presidente da Central Sicredi PR/SP/RJ e diretor do World Council of Credit Unions (Woccu), as cooperativas promovem uma inclusão financeira mais ampla, que vai além da abertura de contas. “O modelo oferece crédito com taxas mais justas, orientação qualificada e soluções adaptadas à realidade local, viabilizando investimentos, geração de renda e desenvolvimento regional”, afirma.
O diferencial do cooperativismo financeiro, segundo Dasenbrock, está na redistribuição de renda. Além do acesso a crédito mais acessível e tarifas reduzidas, os cooperados participam dos resultados financeiros das instituições, por meio da distribuição das chamadas sobras, devolvidas proporcionalmente aos associados. Com isso, os recursos permanecem nas próprias comunidades, fortalecendo o comércio local e evitando a concentração de renda nos grandes centros.
Dados de uma pesquisa recente da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe/USP) reforçam esse impacto. O estudo aponta que municípios com presença de cooperativas registraram, em um ano, um impacto agregado superior a R$ 48 bilhões, além da criação de 70 mil novas empresas e 278 mil postos de trabalho. Nessas localidades, o PIB per capita é, em média, 5,6% maior, o número de empregos formais cresce 6,2% e a quantidade de estabelecimentos comerciais aumenta 15,7%.
As micro e pequenas empresas também figuram entre as principais beneficiadas pelo modelo. Atualmente, cerca de 26% das MPEs brasileiras mantêm relacionamento com o Sicredi. Segundo Dasenbrock, além do crédito, esses empreendedores recebem orientação próxima e soluções financeiras personalizadas, o que contribui para a geração de empregos, fortalecimento das cadeias produtivas e dinamização das economias locais.
No campo, o cooperativismo exerce papel estratégico no fortalecimento da agricultura familiar, responsável por grande parte dos alimentos consumidos no país. Na safra 2024/2025, o Sicredi destinou mais de R$ 3 bilhões em custeio e quase R$ 900 milhões em investimentos para agricultores familiares nos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, beneficiando cerca de 48 mil associados. Em âmbito nacional, o volume de recursos direcionados à agricultura familiar chegou a R$ 12,2 bilhões na mesma safra, quase o dobro do registrado cinco anos antes.
Além do impacto econômico, o cooperativismo também atua em áreas como educação, cultura, empreendedorismo, inclusão de jovens e sustentabilidade. Somente em 2024, o Sicredi investiu mais de R$ 435 milhões em iniciativas de impacto social, o que representa mais de R$ 1 milhão por dia direcionado a projetos comunitários.
Para Manfred Dasenbrock, esses resultados reforçam a necessidade de ampliar o reconhecimento do modelo cooperativista. A ONU, inclusive, discute transformar o Ano Internacional das Cooperativas em uma celebração periódica. “O cooperativismo não deve ser visto como alternativa, mas como um caminho para enfrentar a desigualdade estrutural e a concentração de renda”, avalia. Segundo ele, a expansão do modelo contribui para a construção de uma sociedade mais inclusiva, sustentável e com geração de riqueza distribuída de forma mais equilibrada.


