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Jovens lideram risco de suicídio no Brasil, aponta estudo da Fiocruz

Levantamento revela índices ainda mais alarmantes entre indígenas, especialmente homens de 20 a 24 anos

Por Redação* 08/12/2025 10h10
Jovens lideram risco de suicídio no Brasil, aponta estudo da Fiocruz
Jovens indígenas, homens na faixa entre 20 e 24 anos, apresentam uma taxa altíssima de 107,9 suicídios para cada cem mil habitantes - Foto: Agência Brasil

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostra que a juventude é o grupo mais exposto ao risco de suicídio no país, com 31,2 casos para cada 100 mil habitantes — número que supera a média nacional de 24,7 por 100 mil. Entre os homens jovens, o índice alcança 36,8. Porém, entre povos indígenas a situação é ainda mais crítica.

O 2º Informe Epidemiológico sobre a Situação de Saúde da Juventude Brasileira: Saúde Mental, produzido pela Agenda Jovem Fiocruz e pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), registra que “o suicídio é um problema de saúde sobretudo entre a juventude indígena”. De acordo com o documento, essa população apresenta a maior taxa do país (62,7).

Segundo o levantamento, homens indígenas de 20 a 24 anos enfrentam o cenário mais grave, com 107,9 suicídios por 100 mil habitantes. Entre mulheres indígenas jovens, a taxa também é superior à de outras populações, especialmente na faixa de 15 a 19 anos, que chega a 46,2.

A pesquisadora Luciane Ferrareto aponta fatores culturais e dificuldades de acesso à saúde como influências para os altos números. “Os indígenas hoje têm muito acesso à informação, mas ainda há muito preconceito contra eles na sociedade”, disse.

O estudo reúne dados de mortalidade, internações e atendimentos relacionados à saúde mental em unidades de atenção primária para pessoas de 15 a 29 anos, no período de 2022 a 2024.

Internações concentram-se entre homens jovens


O levantamento indica que homens jovens correspondem a 61,3% das internações por questões de saúde mental, com uma taxa de 708,4 por 100 mil habitantes — 57% acima da registrada entre mulheres (450). Menos da metade dos jovens internados retorna ao acompanhamento psicológico ou médico após a alta.

O abuso de substâncias psicoativas é o principal motivo das internações masculinas (38,4%). A maior parte dos casos envolve múltiplas drogas (68,7%), seguida por cocaína (13,2%) e álcool (11,5%). Para as mulheres, a depressão aparece como principal causa.

Na análise geral da juventude, transtornos esquizofrênicos e uso de drogas têm peso semelhante, com 32% e 31%, respectivamente.

De acordo com especialista da EPSJV, o consumo de substâncias entre homens jovens resulta de fatores culturais, sociais e econômicos combinados. Ela afirma que expectativas de comportamento masculino dificultam a busca por apoio emocional, conduzindo alguns ao uso de drogas. Além disso, a precariedade no mercado de trabalho e a sensação de fracasso ampliam a vulnerabilidade. “Além disso, muitos desses jovens já são chefes de família”, relatou.

Violência e desigualdades atingem mulheres jovens


Em relação às mulheres jovens, Luciane explica que episódios de violência física e sexual durante a adolescência — muitas vezes envolvendo familiares — contribuem para o adoecimento mental. Segundo ela, jovens de 22 a 29 anos enfrentam ainda sobrecarga de cuidados com filhos ou parentes, devido à falta de políticas públicas como creches e acolhimento de idosos. Relações abusivas, precariedade laboral e assédio também agravam o quadro.

Do total de atendimentos juvenis na atenção primária, apenas 11,3% foram relacionados à saúde mental, proporção inferior à média da população geral (24,3%). Ainda assim, a taxa de internações na juventude é de 579,5 por 100 mil habitantes, chegando a 624,8 entre pessoas de 20 a 24 anos e 719,7 entre 25 e 29 — índices maiores que os registrados entre adultos acima de 30 anos (599,4).

O coordenador da AJF, André Sobrinho, ressalta que os jovens enfrentam mais problemas de saúde mental, violência e acidentes de trabalho, mas têm menor acesso a cuidados. “Muitas vezes os jovens, a sociedade e o Estado agem como se eles tivessem que aguentar qualquer coisa exatamente por serem jovens”, afirmou.

O informe usa dados do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre internações, óbitos e atendimentos, além de informações do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Quando buscar ajuda


Pessoas com pensamentos suicidas devem procurar apoio, seja em familiares, amigos ou serviços de saúde. O Ministério da Saúde reforça a importância de conversar com alguém de confiança e buscar ajuda profissional quando necessário.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento gratuito e sigiloso pelo telefone 188, além de e-mail, chat e VoIP, 24 horas por dia.

Serviços que podem ser procurados:

  • Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e Unidades Básicas de Saúde
  • UPA 24h, SAMU 192, prontos-socorros e hospitais
  • Centro de Valorização da Vida – 188

*Com informações da Agência Brasil