Ciência, tecnologia e inovação

Instituto Nacional cria centro dedicado à energia renovável no oceano

Projeto aposta em quatro tecnologias offshore para ampliar a produção de energia limpa

Por Redação* 06/12/2025 15h03
Instituto Nacional cria centro dedicado à energia renovável no oceano
serão desenvolvidas quatro tecnologias para produção de energia renovável em alto mar - Foto: Divulgação

O Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (Inpo) vai implantar o Centro Temático de Energia Renovável no Oceano – Energia Azul, iniciativa que reunirá quatro frentes de desenvolvimento em geração elétrica no mar. O projeto engloba pesquisas em conversão da força das ondas, aproveitamento de correntes de maré, uso do gradiente térmico oceânico (Otec) e produção de hidrogênio verde em ambiente offshore.

A proposta será executada graças à aprovação, pelo instituto, de um edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que destina cerca de R$ 15 milhões para a implantação das ações previstas.

As soluções estudadas, segundo o Inpo, têm foco industrial e podem contribuir para reduzir emissões em áreas consideradas difíceis de descarbonizar, como plataformas de óleo e gás, setor de fertilizantes, indústria do aço, transporte e produção de cimento. Em estruturas marítimas que utilizam turbinas a gás natural, por exemplo, parte da geração poderá ser substituída por fontes renováveis instaladas no oceano.

O diretor-geral do Inpo, Segen Estefen, destaca a relevância estratégica do projeto.
“A disponibilidade de recursos renováveis no oceano e a experiência brasileira em atividades offshore são diferenciais importantes. Podemos transformar o oceano em um aliado estratégico na transição energética, produzindo eletricidade, hidrogênio e água dessalinizada de forma sustentável”, diz ele.

Da verba total, R$ 4,3 milhões serão destinados a bolsas de pesquisa voltadas a estudantes de pós-graduação, em parceria com quatro instituições: UFRJ, UFPA, UFPE e Fundação Getúlio Vargas (FGV). O objetivo é ampliar a formação de especialistas e impulsionar a produção científica em energias oceânicas no país.

Outra etapa do projeto envolve a simulação física da produção de hidrogênio verde com base na energia eólica instalada no mar, utilizando água dessalinizada para o processo de eletrólise. De acordo com o Inpo, a tecnologia busca enfrentar a intermitência da geração eólica, criando uma alternativa de armazenamento energético e maior estabilidade para o sistema elétrico.

Atualmente, cerca de 250 gigawatts em projetos de eólica offshore estão em análise no Ibama. Mesmo que apenas 20% desse potencial avance, a matriz elétrica nacional teria capacidade adicional próxima de 50 gigawatts — quase um quarto do total disponível atualmente no país.

Entre as tecnologias previstas está também uma turbina voltada ao aproveitamento das correntes de maré, projetada para operar tanto no oceano quanto em rios com fluxo contínuo.
“Mesmo turbinas de pequeno porte podem alcançar alta capacidade instalada. Isso permite levar energia limpa e contínua a comunidades isoladas, solucionando um problema histórico de acesso à eletricidade”, afirma Estefen.

O projeto compreende ainda a criação de quatro equipamentos: um conversor de ondas, um sistema Otec com ciclo de Rankine utilizando amônia, um módulo offshore destinado à produção de hidrogênio e uma turbina para correntes de maré. Cada solução será desenhada, construída e submetida a testes tanto em laboratório quanto em ambiente real, resultando em protótipos aptos a serem instalados no mar.

Estefen enfatiza que o Centro de Energia Azul terá papel essencial no avanço do nível de maturidade dessas tecnologias. “As energias renováveis offshore encontram-se atualmente em fase pré-comercial, o que exige avanços nos níveis de maturidade tecnológica (TRL). O Centro de Energia atuará justamente nesse estágio intermediário, viabilizando a prova de conceito e o detalhamento de projetos para aplicação em escala real. Ao final do projeto, para cada tecnologia está contemplada a entrega de respectivo projeto-piloto para instalação no mar, etapa que prepara o caminho para aplicações comerciais em larga escala”, finaliza o diretor.

*Com informações da Agência Brasil