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Pesquisa revela que debate social e político sobre dignidade menstrual ganha mais força nas redes
Levantamento da Nexus analisou 173 mil publicações e mostra que temas de impacto social geram quase o dobro de engajamento
Um levantamento inédito da Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados revelou que o debate sobre menstruação nas redes sociais está cada vez mais associado a pautas sociais e políticas. A análise, que avaliou mais de 173 mil publicações entre janeiro de 2024 e outubro de 2025, identificou 12,4 milhões de interações no período.
Embora a maior parte do conteúdo trate da menstruação de forma cotidiana — com memes, relatos de cólicas, sintomas da TPM e questões naturais do ciclo —, as publicações com recorte social e político são as que apresentam maior engajamento.
Segundo Ana Klarissa Leite e Aguiar, diretora de Inteligência de Dados da Nexus, o debate sobre menstruação sob a perspectiva social e política já está consolidado no ambiente digital. O estudo categorizou 78 mil publicações em 22 subtemas, sendo cinco deles voltados ao olhar social: Pobreza e Dignidade Menstrual, Programa Dignidade Menstrual, Impacto na Educação e Trabalho, Licença Menstrual e Menstruação em Crises Humanitárias.
Esses temas representaram apenas 10,8% das postagens categorizadas, mas alcançaram uma média de interação 1,8 vez maior do que todos os outros tópicos relacionados ao cotidiano menstrual.
“Quando falamos dessa temática com viés político e social, vemos uma interação quase duas vezes maior. Há um interesse claro das pessoas em conteúdos que tratam de aspectos importantes dessa questão”, afirma Ana Klarissa.
O aumento da discussão também se relaciona com ações recentes, como o programa do Ministério da Saúde que distribui absorventes gratuitos a mulheres em situação de vulnerabilidade e o projeto de lei que propõe licença menstrual para trabalhadoras com sintomas graves.
Entre todas as publicações analisadas, cólicas e dor menstrual representam 45% dos posts. Em seguida aparecem menstruação e saúde feminina (ginecologia), com 20%, sintomas da TPM (17%) e alternativas de absorção, como coletor menstrual e calcinhas absorventes, com 12%.No entanto, os temas de maior engajamento foram justamente os menos frequentes. Menstruação em crises humanitárias, embora represente apenas 0,34% das publicações, teve a maior média: 870,3 interações por postagem. Já licença menstrual, com 0,48% dos posts, registrou engajamento sete vezes maior que o volume de publicações e ficou em segundo lugar em média de interações, com 828,6 por post.
Para a diretora da Nexus, o resultado mostra que discussões profundas sobre educação, trabalho, saúde e dignidade têm mais “poder de narrativa” do que relatos individuais ou conteúdos humorísticos. “As pessoas estão interagindo mais com esse conteúdo do que com a piada ou só com o relato do dia a dia”, afirma.
Ana Klarissa destaca ainda que o debate não se limita ao acesso a absorventes ou à pobreza menstrual. “É muito mais amplo, porque estamos falando sobre dignidade, sobre impacto na educação, no trabalho”, diz.
Segundo a pesquisadora, as redes funcionam como um espaço de escuta social: “As pessoas estão ali compartilhando suas realidades, demonstrando que o assunto é de interesse delas. Não é só falar de políticas públicas.”
O estudo, afirma a Nexus, reforça que temas estruturantes da saúde menstrual têm ganhado destaque e engajamento crescente, indicando um debate público mais maduro e abrangente sobre o assunto.

