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Estresse crônico pode alterar o cérebro e comprometer memória, decisões e emoções
Especialista alerta para os impactos físicos do estresse prolongado no cérebro e recomenda medidas de prevenção

O Brasil é o quarto país mais estressado do mundo, segundo o relatório World Mental Health Day 2024, divulgado pelo Instituto Ipsos. A pressão constante do dia a dia não afeta apenas o bem-estar emocional, mas também a saúde do cérebro. Quando o estresse se torna crônico, ele pode provocar alterações reais na estrutura e no funcionamento cerebral.
“O estresse crônico pode reduzir o volume do hipocampo, que está ligado à memória, afetar o córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões, e aumentar a atividade da amígdala, relacionada às emoções”, explica o neurocirurgião João Vitor Lima, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.
Como o estresse afeta o cérebro
O estresse é uma resposta natural do organismo diante de situações de ameaça ou pressão. Segundo o Ministério da Saúde, ele pode ser classificado em duas formas:
• Estresse agudo: mais intenso e de curta duração, geralmente causado por eventos traumáticos
• Estresse crônico: constante e mais suave, mas com efeitos acumulativos ao longo do tempo
No cérebro, o estresse afeta principalmente o hipocampo, essencial para a memória e o aprendizado. Altos níveis de cortisol, o hormônio do estresse, prejudicam a comunicação entre o hipocampo e o córtex pré-frontal, dificultando o planejamento, o controle de impulsos e a tomada de decisões.
“Pode causar dificuldade de concentração, insônia, irritabilidade, ansiedade e dores de cabeça frequentes”, afirma o especialista. Ele também alerta para o risco aumentado de doenças neurodegenerativas. “Há evidências de que o estresse prolongado pode aumentar o risco de Alzheimer, por promover inflamação crônica e dano neuronal. No caso do Parkinson, a relação ainda está sendo investigada.”
Sinais de que o estresse pode estar afetando seu cérebro
• Dificuldade de concentração e lapsos de memória
• Alterações no sono, como insônia ou pesadelos
• Mudanças no apetite
• Irritabilidade, ansiedade e sensação de sobrecarga
• Dores de cabeça e tensão muscular
• Dificuldade em tomar decisões e falta de motivação
• Redução do desejo sexual
Em alguns casos, exames como ressonância magnética funcional e testes neuropsicológicos podem ajudar a identificar os impactos do estresse no cérebro.
Como se proteger
Apesar dos riscos, há medidas eficazes para proteger o cérebro contra os efeitos do estresse. O neurocirurgião recomenda:
• Prática regular de atividade física
• Sono de qualidade
• Técnicas de respiração e meditação
• Alimentação equilibrada
• Psicoterapia ou medicação, quando necessário
O estresse é uma resposta biológica necessária, mas quando se prolonga, exige atenção e cuidado. Reconhecer os sinais e adotar estratégias de prevenção pode fazer toda a diferença na saúde mental e cerebral.
