Rombo do Banco Master e perda milionária dos servidores abalam gestão do prefeito JHC
Investir Fundo de Pensão no mercado financeiro pode levar dinheiro para caminho sem volta
Não há como negar ou como esconder o prejuízo milionário sofrido com a aplicação, em títulos podres do Banco Master, de recursos do Instituto de Previdência dos Servidores Públicos de Maceió (IPREV). Foram ao menos 97 milhões de reais, representando o terceiro maior investimento feito por Fundos de Pensão, nessa instituição bancária. Evidente que uma perda dessa magnitude produz consequências, e as principais são:
1 - O dinheiro dos servidores é irrecuperável porque a liquidação do Master enseja o resgate de apenas R$ 250 mil junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC), criado pelos próprios bancos para mitigar as perdas dos clientes em casos de liquidação e falência.
2 - A aplicação do dinheiro do IPREV envolve dirigentes do Fundo e mesmo autoridades municipais da área financeira, mas a responsabilidade maior é do prefeito, o gestor principal e de quem dependia autorização para executar o investimento.
Resta agora avaliar e estimar o tamanho do desgaste político que o prefeito JHC deve estar sofrendo com o infausto financeiro, mesmo se levando em conta que aplicação de recursos dos Fundos de Pensão, independente dos valores em jogo, pode até não afrontar dispositivos legais, quando feita com prudência.
O imbróglio, no entanto, é desgastante para o prefeito porque evidencia que foi feito um investimento pra lá de temerário, focando não na garantia do dinheiro aplicado, mas no tamanho do lucro que o 'lance lotérico' poderia proporcionar.
Quanto ao prejuízo, é forçoso atentar para o seguinte: a menos que alguém tire do próprio bolso os 97 milhões incinerados, para reembolsar o IPREV - algo impensável, totalmente fora de cogitação - não existe fórmula mágica para repor o numerário perdido sem que outra fonte ou setor (públicos) sejam afetados.
Isso, claro, considerando que, da forma como foi liquidado e pelos números já amplamente divulgados, o Banco Master simplesmente não tem como devolver o dinheiro de seus malogrados clientes. E daí surge uma perguntinha: quem, afinal, vai restituir o dinheiro dos funcionários maceioenses?
Assim como outras gestões e instituições, a administração de Maceió se deixou atrair e convencer pelas altas taxas de remuneração ofertadas pelo Master, sem considerar que, quanto maior a promessa de lucro, maior o risco de grave lesão financeira, isto é, de perda irreversível. Isso é princípio básico, elementar do mercado de capital.
Não dá ainda para aquilatar o desgaste pessoal e político, mas o prefeito João Henrique Caldas já sofre com a repercussão negativa do negócio desditoso e mais ainda porque as pessoas inferem que o dano financeiro foi grande, mas poderia ter sido maior ainda se o Banco quebrado tivesse escapado da liquidação e continuasse operando por mais tempo.
Outro ponto em jogo é: gestores podem ser acionados na Justiça por conta de perdas como essas no Banco Master? Podem, sim. Agora mesmo, o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) encaminhou notícia-crime à Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo que o governo Cláudio Castro seja investigado por crimes contra o Sistema Financeiro Nacional e lavagem de dinheiro.
Isso porque a gestão do governador fluminense investiu no Banco Master cerca de R$ 1 bilhão do Rioprevidência (entidade que gerencia o dinheiro da aposentadoria de 235 mil servidores do RJ) e R$ 230 milhões da Cedae, mesmo após alertas do Tribunal de Contas do Estado de que a instituição financeira estava em crise aguda.
Aqui, devidamente informado sobre o quadro crítico do Master, o vereador Rui Palmeira (PSD) tomou a iniciativa de denunciar os riscos da transação com o dinheiro do IPREV dias antes de sua liquidação.


