Mudança de rumo exibe caráter oportunista de Tarcísio como 'bolsonarista de ocasião'
Governador de São Paulo foge da presidência, mesmo com Bolsonaro fora do páreo

Considerado o nome mais viável da direita para a disputa presidencial com Lula, Tarcísio Freitas tem procurado assumir 'posições patrióticas' e se mostrar um aliado de fé, confiável, do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas sua postura e seu discurso colidem frontalmente com seus atos e decisões.
Enquanto Bolsonaro estava para ser julgado no Supremo Tribunal como principal líder da trama golpista, o esperto Tarcísio defendia o ex-presidente participando de manifestações públicas, fazendo discursos inflamados em defesa do Messias e até disparando ataques a ministros da Suprema Corte.
O desempenho animava a direita - sem, contudo, desmobilizar outros presidenciáveis como os também governadores Ronaldo Caiado (Goiás), Ratinho Jr. (Paraná) e Romeu Zema (Minas Gerais), mas dois episódios fizeram Tarcísio Freitas mudar de caminho: a condenação de Bolsonaro e a mudança de postura de Donald Trump em relação ao presidente Lula.
Foi o bastante para, sem reflexão, sem exames, sem mais nem menos, o governador paulista desistir da presidência e anunciar sua decisão de concorrer a um novo mandato de governador. Portanto, para o bravo e corajoso inquilino do Palácio dos Bandeirantes, a direita que se vire na batalha presidencial.
Evidente que Tarcísio também considerou os efeitos danosos das estripulias de Eduardo Bolsonaro conspirando contra o Brasil com ações junto ao governo dos Estados Unidos, mas foi o crescimento de Lula, com a defesa da soberania nacional, que o deixou apavorado. Ficar sem mandato para bancar herói da direita? Nem pensar, tem gente melhor, gente mais preparada para bater de frente com o ex-metalúrgico.
Para a direita, entretanto, a debandada do governador paulista radiografa algo muito mais grave: se o melhor nome, o mais forte e preferido dos conservadores, fugiu à luta com medo de ficar sem mandato, o que esperar do bolsonarismo acéfalo na próxima sucessão presidencial?
A resposta (o diagnóstico) é simples e transparente: Tarcísio Freitas admite que não há adversário à altura de Luiz Inácio. Se houvesse, claro, ele próprio se assumiria como o 'herói' da vez. E isso remete, inapelavelmente, à conclusão de que os demais governadores estão 'brigando' pela condição de candidato da direita, de representante da direita, não por acreditarem em vitória, mas tão somente porque já exercem o segundo mandato em seus estados e não podem mais disputar reeleição.
O leitor deve estar se perguntando se o cenário pode mudar, com relação a Tarcísio. Evidente que pode mudar. Política (eis uma novíssima definição) é a arte da mudança. Basta Trump negar a 'química' com Lula, a inflação sair do controle, o desemprego disparar, o governo suspender o pagamento do Bolsa Família, o Congresso derrubar a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, o vale-gás pegar fogo, o Supremo soltar Bolsonaro, o TSE excluir o Nordeste da votação para presidente e Lula resolver pedir voto para a oposição.
Nesse caso, o destemido Tarcísio volta rindo...