Como Renan obrigou Lira a ter pressa para aprovar projeto de isenção do Imposto de Renda
Deputado perde mais uma no embate com o senador alagoano, um dos nomes mais experientes do Congresso

O deputado Artur Lira tem fixação por grana - sua obsessão por emendas parlamentares comprova isso - mas ainda vai precisar de muitos anos de exercício legislativo para ganhar alguma disputa com Renan Calheiros, um dos nomes mais experientes do Congresso Nacional (são MAIS DE 30 ANOS só de Senado).
No mais recente contencioso entre os dois, tendo como objeto o projeto de isenção do Imposto de Renda, Lira até saiu na frente, na Câmara, mas acabou ultrapassado por Calheiros.
Seguinte: Hugo Motta, presidente da Câmara, indicou Artur Lira para ser o relator do projeto que isenta do pagamento do Imposto de Renda quem ganha até 5 mil reais.
Ao seu estilo, contudo, Lira passou a usar o projeto como trunfo para defender seus interesses e do grupo a que pertence, cozinhando a proposta, empurrando com a barriga, ganhando tempo e, assim, forçando o Planalto a atender seus pleitos.
O projeto 1087/2025 foi encaminhado pelo governo Lula em março último e, mesmo tramitando em regime de urgência, acabou preso na relatoria exercida por Artur Lira.
Dentre outros motivos, a proposta foi retida para forçar a base governista a apoiar o projeto de anistia aos golpistas do 8 de janeiro, cujo principal personagem - o ex-presidente Jair Bolsonaro - recentemente foi visitado por Lira em sua residência em Brasília, onde cumpre prisão domiciliar.
Promessa de Lula na campanha eleitoral de 2022, a isenção do Imposto de Renda, se votada a tempo, vigerá em 2026 e atenderá mais de 10 milhões de contribuintes, segundo a Receita Federal.
Com o fim do ano chegando e o PL paralisado por obra e graça do relator, o governo passou a temer a perda do prazo legislativo, enquanto milhões de futuros beneficiários começaram a se impacientar. O projeto foi usado até para barganhar apoio em defesa da ultrajante PEC da Blindagem.
Foi aí que Renan Calheiros entrou em ação: mesmo sabendo que haveria resistência na Câmara, o senador combinou com o David Alcolumbre (presidente do Senado) e, sem perda de tempo, pôs em votação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, a qual preside, um projeto similar (alternativo) ao do governo, de autoria do senador Eduardo Braga.
O efeito foi instantâneo. Nervoso e enraivecido, Artur Lira exasperou-se e chamou Renan de 'oportunista' mas, às pressas, procurou o presidente Hugo Motta que, finalmente, pautou para a próxima semana a votação no plenário da Câmara da santa isenção do Imposto de Renda.
Ruim de pontaria, Lira atirou no próprio pé, pois além de não ter conseguido vantagem pessoal, ainda propiciou a Renan Calheiros a oportunidade de atuar em defesa de milhões de brasileiros (eleitores, pra seu governo), enquanto o herdeiro de Biu de Lira sai do episódio recebendo críticas sem dor nem piedade.