Missão de Gaspar: revelar onde está cada centavo dos R$ 6 bilhões desviados do INSS
CPMI fracassará se não for além de ‘discurso antigo-governo’ mirando eleições-2026

Desde que tornou público, em pleno governo Lula, o desvio de (estimativamente) seis bilhões de reais transferidos criminosamente das contas de aposentados do INSS, a Polícia Federal deu margem a uma questão que precisa de resposta objetiva: onde essa montanha de dinheiro foi parar?
O mega assalto, praticado em criminoso conluio por entidades obscuras, muitas delas criadas ardilosamente com esse fim, não foi uma ação repentina, pelo contrário, levou anos para ser estourada durante investigação dos federais.
O esquema consistia no desconto ilegal, não autorizado, de mensalidades extraídas de contas dos aposentados e pensionistas da Seguridade Social, havendo relatos de casos ocorridos a partir de 2001. O certo é que investigações do Ministério Público apuraram rapinagem praticada em 2018 e 2019, ainda nos governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), mas em escala menor do que a observada na fraude revelada durante a atual administração do INSS.
Diante da magnitude do escândalo, a oposição no Congresso Nacional fez o que estava a seu alcance, por sinal aproveitando-se da sonolência da base governista: criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI), assim denominada por reunir deputados e senadores, para desvendar a roubalheira.
Antes de mais nada, um aviso: CPI é conhecido instrumento da oposição usado para desgastar governos de plantão, mormente em períodos pré-eleitorais, e geralmente termina com discursos ruidosos e virulentos, mas sem resultados práticos.
A Comissão que investigará a fraude no INSS, constituída pela Câmara e Senado, escolheu como presidente o senador Carlos Viana (Podemos-MG) e como relator o deputado alagoano Alfredo Gaspar (União Brasil), um bolsonarista raiz, conhecido por sua formação de advogado e ex-procurador do Ministério Público Estadual de Alagoas e pelos discursos, quase sempre impetuosos, contra o adversário comum: Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República pela terceira vez.
Após ser indicado para a relatoria, Gaspar declarou que pretende conduzir “uma investigação ampla para responsabilizar os culpados e recuperar a confiança da população nas apurações do Parlamento”. Um bom começo.
• O povo está muito desacreditado nas investigações do Parlamento. Nós temos que fazer diferente, uma investigação séria” – disse o relator em entrevista à imprensa.
Óbvio que é importante apontar os culpados, ou será uma CPMI absolutamente improdutiva e inócua como tantas outras, mas não bastará apontar e responsabilizar as administrações do INSS e mesmo o Ministério do Trabalho e da Previdência nos governos Temer, Bolsonaro e Lula.
O que a população, os aposentados e os pensionistas lesados querem saber – eis o grande desafio que colocará Alfredo Gaspar e a CMPI diante do sucesso ou do fracasso – é onde cada centavo dos seis bilhões desviados foi parar.
Pois não acrescentará nada ao que a Polícia Federal apurou, gritar que foi culpa do governo Temer, do governo Bolsonaro e do governo Lula. O que mais interessa é descobrir e revelar onde, com quem está a dinheirama arrancada dos inativos. Identificar e punir culpados importa, evidentemente, mas recuperar os bilhões de reais afanados vale mais, muito mais.