Donald Trump atentou contra a democracia do próprio país, quanto mais a do Brasil
Candidato a imperador usa Bolsonaro e o Brasil para ameaçar o mundo com tarifaço

Donald Trump precisava de um pretexto, melhor dizendo, de um ‘exemplo’ para mostrar ao mundo que a imposição de mega tarifas aos países exportadores não significava retaliação nem desrespeito a governos ‘mal vistos’ pela Casa Branca.
Os Estados Unidos já não são um ‘império econômico’ – e se o são exibem sinais de decadência – e o presidente cheio de espertezas sabe que Washington precisa de grana, muita grana.
Antes mesmo de assumir a presidência pela segunda vez, Trump já tinha em mente o que deveria fazer para gerar mais receita e se fixou em duas medidas: 1 - demitir funcionários públicos em massa, missão que atribuiu a Elon Musk, o bilionário que financiou sua campanha e se desincumbiu da tarefa com ar de vitorioso; 2 – aumentar o imposto sobre os produtos importados.
No caso das tarifas sobre importações, o presidente julgou precisar de uma justificativa e de um exemplo para demonstrar que não estava tratando nenhum país como inimigo. Daí surgiu a tese de que os Estados Unidos cobravam tarifas menores e absorvia o prejuízo e de que adotara uma super tarifa aos produtos exportados pelo Brasil, um país amigo e de ótimas relações – diplomáticas e comerciais – ao longo da história, provando com isso que a investida tarifária era mera questão mercantil.
A cronologia prova isso: primeiro, a estocada no Brasil. Em seguida, a ofensiva contra a União Europeia e mais 20 nações.
Nessa linha de análise, Jair Bolsonaro entrou na história simplesmente como elemento motivador do gesto pessoal de um presidente que, primeiro, invocou sua amizade, mas, em seguida, estranhamente, negou ser amigo do ex-presidente brasileiro.
Trump quer dinheiro, muito dinheiro, mas – por alguma razão desconhecida do público – ofereceu aos Bolsonaros uma ‘carona’ na decisão de extorquir dinheiro dos exportadores brasileiros. ‘Vou tarifar o Brasil de qualquer jeito, para servir de exemplo aos demais, e vou exigir que perdoem Bolsonaro, parem com julgamento e condenação de Bolsonaro, ou não negociarão nada comigo. Assim, atendo aos rogos do deputado Eduardo, que me suplicou por uma ação minha em defesa de seu pai’. Trump agiu mais ou menos com esse tipo de raciocínio.
Um governante que age dessa forma é capaz de tudo. Com sua determinação de fazer caixa a todo custo e de defender os Estados Unidos exclusivamente para os estadunidenses (como se vivessem numa ilha), o republicano provocou uma guerra comercial planetária em que, de um lado está a Casa Branca e, do outro, o resto do mundo, incluindo obviamente o Brasil. Nascia aí um candidato a Napoleão Bonaparte das Américas, no seu caso, um pretenso imperador conhecido por falar fazendo ‘biquinho’...
Como vai terminar? Nem Trump sabe. Até porque o presidente dos Estados Unidos tem por hábito recorrente anunciar medidas e voltar atrás. Já fez isso ao tarifar a China e outros países. E tem se irritado por ser tratado pela expressão Taco - sigla que significa ‘Trump Always Chickens Out’. Traduzindo: ‘Trump sempre arrega’ ou ‘Trump sempre amarerla’.
De mais a mais, é lembrar que, ao ignorar ou minimizar a tentativa de golpe no Brasil e ao defender o principal líder da trama golpista, Trump apenas reproduz o cara que apoiou a invasão do Capitólio – Congresso norte-americano – na fatal rebelião contra sua derrota eleitoral para Joe Biden.