Mais uma vez, e agora com o ‘buraco mais embaixo’, o governo do presidente Lula repõe o deputado Artur Lira em evidência, escalando-o para desfazer a resistência da maioria dos deputados, notadamente do Centrão, contra proposta de aumento de arrecadação via tributação de títulos do mercado financeiro.

Após derrotas sucessivas em votações na Câmara, Lula entendeu que não pode e não vai contar com o apoio do presidente Hugo Mota para aprovar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), daí a necessidade de recorrer ao alagoano Artur Lira, uma espécie de ‘rei das emendas’ e pessoalmente responsável pela distribuição de bilhões de reais com os parlamentares durante sua gestão na presidência do colegiado.

Em resumo: sem emendas, pois o governo empenhou tardiamente ‘apenas’ R$ 500 milhões, ou seja, uma merreca para os padrões Artur Lira, deputados pressionaram forte e Hugo Mota, que vivia sorrindo para Lula, virou a cara e mandou recado direto, do tipo ‘eu também quero’. O Planalto entendeu e dobrou o fluxo amarrando mais R$ 1 bilhão, mas o estrago já estava feito.

A moçada aprovou urgência para votar requerimento que derruba a turbinada do IOF (em vigor sob Medida Provisória), avançou com CPI mista do INSS e derrubou vetos de Lula por atacado.

De quebra, o Planalto sabe que precisa engrossar ainda mais o caldo das emendas para evitar que a turma dos insaciáveis tente dificultar a tramitação e votação da proposta que assegura isenção do Imposto de Renda para quem ganha mais de R$ 5 mil. Trata-se de uma medida crucial para melhorar a relação de Lula com a classe média e reverter a tendência de baque de sua popularidade.

E quem é o relator da medida? Artur Lira, de quem Lula – de olho no calendário, já que o recesso começa no dia 17 de julho - espera providencial cooperação para evitar atraso na tramitação.

O grande desafio de Lula nesse momento é encontrar saída – aumento de arrecadação – para garantir o equilíbrio das finanças e salvar o ‘arcabouço fiscal, o que está buscando viabilizar mediante majoração de impostos, algo que o Congresso rejeita devido à aproximação das eleições (ou aceita, mas com generosa compensação traduzida na liberação de bilhões em emendas).

Com isso, a ‘doutrina Lira’, conhecida como ‘emendas sem restrições’, ganha força e confere importância ao herdeiro de Benedito de Lira que, já há algum tempo, tem priorizado seus contatos internos, em Alagoas, sempre de olho numa das vagas de senador.

A questão agora é saber se os entendimentos em Brasília podem ou não trazer algum tipo de vantagem para Artur Lira, aqui no plano estadual, do modo a ajudá-lo no confronto com as forças governistas comandadas por Paulo Dantas, Renan Calheiros, Marcelo Victor e Renan Filho.