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Nordeste-se: Marcas se adaptam com tapioca, suco de caju e malhação com música junina para ganhar mercado

Por Redação 05/04/2022 12h12
Nordeste-se: Marcas se adaptam com tapioca, suco de caju e malhação com música junina para ganhar mercado
Nas aulas de fit dance, academia Bluefit usa músicas de São João - Foto: Reprodução

*Por Raphaela Ribas*

Para O Globo Rio

Tapioca no balcão da Megamatte, suco de caju e serviços financeiros da Coca-Cola, axé e música de São João nas aulas da academia Bluefit, a paraibana Água Rabelo na farmácia Pague Menos. Estas são algumas das apostas das empresas para cativar clientes no Nordeste, uma região com poder de compra, áreas disponíveis e carência de serviços.


De 2008 a 2020, o Nordeste ocupou a segunda posição no ranking do Índice de Potencial de Consumo (IPC Maps), atrás apenas do Sudeste. A região, com o baque no turismo, no ano passado trocou de lugar com o Sul, que ganhou impulso com o agronegócio.

— A tendência é que o Nordeste volte à segunda posição no curto prazo — afirma o diretor do IPC Marketing, Marcos Pazzini.

Para não perder a jangada, as empresas não só investem como adaptam produtos e serviços, inclusive para o bolso e perfil da maior parte do público, cujo potencial de consumo se concentra nas classes B e C, mas vem crescendo nas D e E.



. Foto: Arte/O Globo

. Foto: Arte/O Globo

Oportunidade digital

A Coca-Cola, que já havia comprado o Guaraná Jesus, lançou um refresco de caju da marca Del Valle Kapo na região. E a Solar Coca-Cola, engarrafadora que atua no Nordeste, Norte e parte do Centro-Oeste, decidiu aproveitar sua logística, que chega até o sertão, com acesso a quase 400 mil pontos de venda, para distribuir outras bebidas, além de biscoitos e balas.

A empresa criou ainda uma joint venture (parceria) para oferecer conta digital, maquininha, cartões de débito e crédito, Pix e outras aplicações a seus clientes, cerca de 80% pequenos empresários.

— Temos muito o que expandir com Fanta, chá Leão, água, cervejas, sucos e conta digital. A grande oportunidade é ajudar a desenvolver o ponto de venda, principalmente dos pequenos. É um grande impulsionador para o negócio — explica André Salles, CEO da Solar Coca-Cola.

A engarrafadora vai investir na região este ano R$ 600 milhões, um recorde. O valor será direcionado, por exemplo, a ações de São João e à compra de geladeiras para bares e mercearias, em comodato.

— Outra coisa importante no Nordeste é um foco especial em embalagens mais acessíveis. Como há maior concentração de classes C, D e E, a gente tem mais retornáveis, de vidro, para reduzir o preço ao consumidor — diz Salles.

No Nordeste, a Coca-Cola tem refresco de caju, Guaraná Jesus e embalagem retornável. E a engarrafadora oferece contas digitais ao comércio Foto: Divulgação

No Nordeste, a Coca-Cola tem refresco de caju, Guaraná Jesus e embalagem retornável. E a engarrafadora oferece contas digitais ao comércio Foto: Divulgação

Na rede de farmácias Pague Menos, as lojas da região sempre têm a centenária Água Rabelo, que exalta propriedades antissépticas e anti-inflamatórias. Há gôndolas inteiras com variedades de água de colônia, e os produtos para cabelos crespos e cacheados se destacam pela alta procura.

— Tem muito mais estoque aqui desses produtos — conta o vice-presidente comercial e de supply, Marcos Colares. — Para os medicamentos, temos um mix o mais amplo possível. Essas preferências interferem na compra e disposição das lojas.

A Pague Menos tem planos de ir além dos remédios e cosméticos. A empresa quer levar para a região o Clinic Farma, consultório com serviços de primeiro atendimento, como aferição de pressão, testes e vacinas. A meta é abrir 120 farmácias em 2022, das quais 80% estarão no Nordeste.

— Só 23% da população no Nordeste têm acesso a plano de saúde. A estratégia não é ir só pela farmácia, mas para esse conceito de primeiro ponto de atendimento — explica o vice-presidente financeiro, Luiz Novais.

Tapioca e axé


A carioca Megamatte, por sua vez, incluiu a tradicional tapioca na sua loja em Fortaleza, a primeira de muitas que quer abrir nos estados da região.

— Não adianta querer mudar cultura histórica. Quem não se adapta, não sobrevive — diz Julio Monteiro, CEO da empresa. — O Sudeste está saturado, e o Nordeste vem se desenvolvendo. Tem poder aquisitivo, tem área, tem mercado, mas uma carência no varejo. É a bola da vez.

Suco Del Valle de Caju, da Kapo, é aposta da Coca-Cola na região Foto: Divulgação

Suco Del Valle de Caju, da Kapo, é aposta da Coca-Cola na região Foto: Divulgação

Já a Bluefit planeja abrir 20 academias na região, sendo que cinco já estão em obras. A rede seguiu o gingado que só o Nordeste tem e colocou músicas locais, como axé e as típicas de São João, nas aulas de fit dance.

— O marketing também é flexível, para fazer ações e arte com gírias locais — conta o CEO da rede, Filippe Savoia.

E, apostando em um crescimento de 40% nos próximos anos graças à forte demanda, a fabricante de piscinas iGUi abriu uma nova fábrica no Nordeste, no Ceará. Para conquistar clientes, tem em seu portfólio um modelo com revestimento em pedra na borda do deque, que é térmico e alivia as altas temperaturas.

No interior, compactos


A joint venture Froneri, que fabrica sorvetes e picolés de diversas marcas, como Nestlé, fez uma ação no ano passado com 14 produtos específicos para a região, como um copão de sorvete de 450ml. Em 2021, ela conquistou 2,2 pontos percentuais em market share no Nordeste na categoria de pontos de venda pequenos. Em dois anos, espera aumentar entre 30% e 40% o número de clientes.

Há ainda um movimento de interiorização, principalmente por meio de lojas compactas. Esta é a tática adotada pela Cacau Show, que aposta no seu modelo de contêiner. A participação do Nordeste no faturamento da empresa passou de 5%, em 2016, para 14% hoje. Das mil lojas previstas para abrir este ano, 25% serão na região.

— O que está nos fazendo dar esses passos está relacionado ao potencial, disponibilidade de praça e aumento de consumo — diz o diretor de expansão e canais da rede, Daniel Roque.

Sobre o consumo, Pazzini, do IPC Marketing, avalia que o Auxílio Emergencial e, agora, o Auxílio Brasil contribuem, mas não são determinantes para os investimentos:

— Hoje há uma estrutura diferente. Quando o Bolsa Família foi criado, o dinheiro atraiu empresas e oferta de empregos. A estrutura já está lá. O dinheiro (do Auxílio Brasil) só ajuda a avançar.

Pesquisa da Associação Brasileira de Franchising (ABF) mostra que o faturamento na região cresceu 14,6% no ano passado em relação a 2020, acima da média nacional, de 10,7%.

— Como a grande maioria das franqueadoras inicia a expansão no Sudeste, Norte e Nordeste acabam tendo mais disponibilidade de área. Marcas passaram a ver potencial em cidades pequenas, e algumas fizeram unidades mais compactas — explica o diretor regional da ABF no Nordeste, Cândido Espinheira.

Coca-Cola e Pague Menos, já consolidadas nos nove estados da região, entenderam isso e aproveitam sua capilaridade para se firmarem no interior.

*Raphaela Ribas

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