Meu Coração é um Bar Vazio Tocando Belchior - Diego Moraes
Alguma coisa acontece quando leio Diego Moraes. Minha atmosfera muda imediatamente, já me vejo num bar enfumaçado com cheiro de mil cigarros já fumados e de decepções esfregadas na cara e bebidas estupidamente geladas em copos de cerveja baratas, no ponto máximo da espera por um outro amor. Sinto como quem “senta num bar vagabundo do Amazonas e entende que poetas são discos empoeirados num sebo entrando em falência. Entende que poetas são barcos naufragando”.
Em 2016 a Editora Penalux, lançou o livro Meu Coração é um Bar Vazio Tocando Belchior do escritor Diego Moraes. E mais uma vez a poesia do autor é um brinde aos olhos e a sede desejosa de algo que descreva de forma tão clara as tantas porradas no coração, é poesia pura e completa, lapidada no calor da emoção, naquele mesmo momento em que é sentida.
O que Diego Moraes faz é traduzir os suspiros arrancados do fundo do bar, aqueles que escondem os maiores sentimentos, traições, amores perdidos, corações estilhaçados e remorsos contidos, e transformar tudo numa primorosa mistura de contos e poemas, onde fica quase palpável a identificação com os temas do livro, aquela mesma identificação que dá ao leitor a sensação de andar “com chiados de uma estação lírica fora de sintonia dentro do peito”.
O autor consegue impregnar tudo o que escreve com uma realidade lírica que pode ser a de qualquer um. A sensação é de que ele traduz a alma em versos. Os temas do livro vão desde a amada que não foi fiel ou aquela ex-dona de um coração que sangra versos como esse, no final do poema Chuva: “Escrevo agora porque escrevi seu nome no meu último cigarro do maço e fumei lentamente até a chuva passar”.
É identificação direta com o leitor. É como encontrar a tradução do que já não se sabe dizer, encontrar alento nas baladas românticas que tocam à meia-noite, à meia-luz, uma vida inteira de esperas e diálogos internos cheios de intensas vidas, vividas quase que inteira e imediatamente urgente e inquietante, assim como a boa poesia deve ser.
Moraes constrói cuidadosamente seus versos observando o que está a seu redor. Sua lírica é aquela dos que estão abandonados, dos traídos e dos encontrados na noite. Seus poemas são observações daqueles que ficam por último, que esperam o bar fechar e que tudo se resolva depois que aquela canção terminar ou apenas resta juntar “as moedas do bolso, passar na borboleta da linha do adeus e a saudade embolora de vez o abraço numa fotografia tirada em 1989.” E se nada mais der certo ainda resta a opção de colocar “seus amores para vender no Mercado Livre”.
Serviço:
Livro: Meu Coração é um Bar Vazio Tocando Belchior - Diego Moraes
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