Agro

Produtor amarga perda de 50% no preço do arroz em plena safra em Alagoas

Cerca de 300 agricultores do perímetro irrigado enfrentam dificuldade para vender o produto

Por Blog do Edivaldo Junior 08/12/2025 14h02
Produtor amarga perda de 50% no preço do arroz em plena safra em Alagoas
Enquanto a colheita avança, o risco é que o desânimo provoque redução da área plantada já no próximo ciclo - Foto: Reprodução

A colheita de arroz no Projeto Boacica, em Igreja Nova, começou no fim de novembro de 2025 trazendo um cenário inesperado: produtividade elevada após investimentos em novas variedades e manejo, mas com um mercado completamente desestruturado. Cerca de 300 agricultores do perímetro irrigado já começaram a tirar a safra, que deve se estender até janeiro ou fevereiro de 2026, mas enfrentam dificuldades para vender até mesmo o produto de melhor qualidade.

Em Alagoas, a rizicultura vive um momento de expansão técnica. Segundo dados da Secretaria de Agricultura, o estado chegou a mais de 20 mil toneladas produzidas na última safra, impulsionado pelo programa Alagoas Mais Arroz. A área plantada no Baixo São Francisco — entre Penedo, Igreja Nova, Porto Real do Colégio e Piaçabuçu — gira entre 2,3 e 2,5 mil hectares, dependendo do ciclo e dos arranjos produtivos do perímetro irrigado.

Com produtividade média de 8 a 10 toneladas por hectare, Alagoas avança rumo a autossuficiência, ainda que o estado siga importando aproximadamente 80% do arroz que consome.

Apesar do avanço técnico, a safra atual está sendo marcada por um colapso nos preços. O presidente da Coobapi (Cooperativa dos Beneficiadores de Arroz do Povoado Ipiranga), Betinho Moura, explica que o valor do alqueire — equivalente a 240 kg de arroz na casca — caiu de cerca de R$ 400 na safra passada para R$ 200 a R$ 220 neste ciclo. Mesmo assim, segundo ele, “não tem quem queira comprar”.

“Isso dá menos de um real por quilo na casca, na roça, o que é muito pouco”, afirma Betinho. Ele reforça que a produtividade segue em boa média — cerca de 10 mil quilos por hectare — mas a ausência de compradores é hoje o principal entrave: “A situação é muito grave e carece da atenção do governo federal e do governo do estado para que os produtores não abandonem suas atividades.”

A Coobapi e a Cooperativa Pindorama estão comprando parte da produção dos pequenos produtores, mas enfrentam dificuldades para escoar o produto. A desvalorização também é sentida no mercado. A saca que era vendida no ano passado por cerca de R$ 140 agora vale no máximo R$ 70. Em algumas regiões do país, a saca já é vendida até por R$ 48.

A queda de mais de 50% inviabiliza o custeio da lavoura, especialmente em pequenos módulos irrigados, onde os produtores dependem do giro rápido da comercialização para preparar a safra seguinte.

Klécio José dos Santos, presidente da Cooperativa Pindorama — que também atua no beneficiamento do arroz e no apoio técnico na região — confirma a gravidade do cenário. “Está muito ruim de vender arroz. Por isso temos dificuldade para estocar o produto que está sendo colhido agora”, diz. A cooperativa tenta apoiar os agricultores locais, mas reconhece o tamanho da crise.

Para ele, a única saída imediata é uma intervenção de mercado. “Acredito que a saída será uma AGF (Aquisição do Governo Federal) para amenizar a situação do produtor na região. Estamos conversando com a Conab para mostrar a situação em Alagoas. O pequeno produtor está sofrendo muito, o preço tá muito baixo, não paga o custo de produção. Precisamos unir forças com o governo para encontrar alternativas que aliviem o pequeno”, defende Klécio.

Caso a safra alagoana ultrapasse novamente as 20 mil toneladas, o prejuízo potencial é expressivo. A diferença entre vender o produto ao preço da safra passada e ao preço atual pode representar perda superior a R$ 20 milhões no conjunto do estado. No caso do Projeto Boacica, onde a maior parte da produção está concentrada, o impacto econômico atinge cooperativas, pequenos rizicultores e toda a cadeia de serviços que depende do ciclo da lavoura.

Enquanto a colheita avança, o risco é que o desânimo provoque redução da área plantada já no próximo ciclo. Com a crescente substituição do arroz pela cana em áreas irrigadas, lideranças cooperativistas alertam que a continuidade da produção depende de medidas urgentes de sustentação de preços. Sem isso, o avanço técnico e produtivo conquistado nos últimos anos pode simplesmente se perder.