Agro

Queimadas criminosas avançam e desafiam ações de prevenção em Alagoas

Além dos custos adicionais, há impactos diretos sobre o planejamento industrial, meio ambiente, ritmo de moagem e a qualidade da matéria-prima

Por Blog de Edivaldo Junior 02/12/2025 04h04
Queimadas criminosas avançam e desafiam ações de prevenção em Alagoas
Incêndio criminoso atinge canavial no municipio de Pilar. - Foto: Reprodução

Mesmo após termo de compromisso firmado no final do ano passado por autoridades e representantes do setor produtivo da cana-de-açúcar em Alagoas, o problema das queimadas criminosas de canaviais segue avançando no Estado. As ocorrências continuam representando uma ameaça ao setor sucroenergético, às agroindústrias da cana-de-açúcar, aos fornecedores de matéria-prima e, cada vez mais, às populações urbanas.

O episódio registrado nesta segunda-feira (01/12) no município de Pilar evidencia a persistência do problema. O fogo atingiu uma área de colheita mecanizada — modelo adotado há duas safras no local — e interrompeu um processo que vinha sendo conduzido dentro dos padrões atuais de sustentabilidade. Com a queima, a empresa será obrigada a realizar a colheita manual da cana, operação mais cara e menos eficiente. Além dos custos adicionais, há impactos diretos sobre o planejamento industrial, meio ambiente, ritmo de moagem e a qualidade da matéria-prima.

Os transtornos, porém, não se limitam ao setor produtivo. A fumaça tomou parte da cidade, afetando moradores, reduzindo a visibilidade nas vias e criando riscos adicionais para quem circula pela região. Trata-se de uma combinação de prejuízos econômicos, ambientais e sociais que reforça a urgência do combate a incêndios criminosos.

A Usina Santa Clotilde, que teve seus canaviais atingidos pelo incêndio criminoso vai registrar o ato em Boletim de Ocorrência na Polícia Civil, como tem feito de forma recorrente. Mas sem a investigação ou ações efetivas de prevenção, esse time de crime tende a voltar a acontecer cada vez com maior frequência.

Alerta

O recente incêndio criminoso ocorrido hoje serve como mais um alerta. Desde setembro de 2024, quando a Usina Santa Clotilde organizou um evento de mobilização e firmou um termo de compromisso contra incêndios criminosos nos canaviais, havia esperança de que o cenário mudasse. Na ocasião, produtores, autoridades ambientais e forças de segurança se comprometeram a adotar medidas preventivas, ampliar a fiscalização e conscientizar a sociedade sobre os riscos dessas práticas.

Porém, os fatos mostram que o combate tem falhado. Relatórios regionais indicam que, só em Santa Clotilde, nos últimos anos, parte significativa da cana colhida provém de áreas atingidas por incêndios criminosos; tal realidade força a empresa a reforçar equipes de combate e vigilância, sem garantir que o problema cesse.

Incêndio

Em uma das várias ocorrências registradas somente hoje no município de Pilar, restos de entulhos — a exemplo de pneus usados em um protesto e descartados às margens da pista, em meio a uma área de plantio — serviram de munição para o início de um fogo criminoso no canavial.

O fogo, que precisou de quatro caminhões-pipa das usinas Santa Clotilde, Caeté e Utinga, além de um caminhão de Bombeiros de uma empresa particular, outro do município de Pilar e mais dois do Corpo de Bombeiros Militar para ser controlado, atingiu, além do canavial, a vegetação abaixo da rede de alta tensão de energia. O incêndio gerou o desarme da transmissão e se alastrou também para uma área próxima a um condomínio residencial.

Diante do aumento de casos, as usinas vêm reforçando o combate aos incêndios provocados de forma criminosa, registrando também boletins de ocorrência diante dos danos causados pelo fogo.

De acordo com informações obtidas junto a representantes de usinas, os incêndios criminosos, além de destruírem canaviais onde a cana ainda não está pronta para a colheita, geram prejuízos financeiros para as unidades industriais e colocam em risco a segurança das comunidades que residem em áreas próximas às plantações.

Perdas

Os incêndios criminosos causam perdas materiais, ameaçam a fauna e a flora, reduzem a segurança nas rodovias e provocam perdas materiais.

O aumento dos incêndios criminosos vem afetando fornecedores de cana e principalmente as indústrias em Alagoas. A Usina Santa Clotilde, localizada em Rio Largo, por exemplo, teve que aumentar somente nos últimos anos o número de equipes para atuar no combate a essas ocorrências. A empresa tinha um caminhão de bombeiro e agora tem seis.

Mesmo assim, na safra 2023/2024, quase 12% da cana colhida pela Santa Clotilde, cerca de 100 mil toneladas, foi de incêndios considerados criminosos. Isso muda o planejamento feito para a colheita e provoca perda rendimento da matéria-prima, muitas vezes colhida ante do período ideal ou, dependendo da extensão do incêndio, sendo colhida fora do prazo ideal após a queima, o que não ocorre em casos de queimadas controladas.

Na área da usina, no entanto, as principais ocorrências tem sido registradas nas palhadas que ficam no campo resultante da colheita mecanizada. Um incêndio nesse tipo de material é mais difícil de controlar e coloca em risco a vida dos trabalhadores, além da ameaça a perdas de bens materiais. A empresa já registrou prejuízos com equipamentos de irrigação, máquinas e veículos – em alguns casos com perda total acima de R$ 1 milhão.


				Queimadas criminosas avançam e desafiam ações de prevenção em Alagoas
Incêndio criminoso atinge canavial no municipio de Pilar. Reprodução

				Queimadas criminosas avançam e desafiam ações de prevenção em Alagoas
Bombeiros combatem incêndio criminoso em canavial no municipio de Pilar. Reprodução