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Desembolsos de crédito rural têm queda de 25% no primeiro mês do Plano Safra 25/26

A principal queda foi registrada nas operações para financiar investimentos, que saíram de R$ 5,5 bilhões para R$ 1,9 bilhão

Por Globo Rural 13/08/2025 10h10
Desembolsos de crédito rural têm queda de 25% no primeiro mês do Plano Safra 25/26
O Ministério da Fazenda contabiliza uma queda menos acentuada nas linhas do crédito rural - Foto: Mauricio Tonetto / SecomRS

O primeiro mês do Plano Safra 25/26 teve retração de 25% no total de valores desembolsados pelas instituições financeiras. Em julho deste ano, os bancos e as cooperativas de crédito concederam R$ 24,2 bilhões em financiamentos aos produtores pelas linhas tradicionais de crédito rural contra R$ 32,2 bilhões no mesmo período de 2024.

O financiamento via Cédulas de Produto Rural (CPR) aumentou 4%, de R$ 15,1 bilhões para R$ 15,8 bilhões no período. Mesmo assim, no acumulado, o valor acessado por agricultores e pecuaristas em julho foi menor.

O Ministério da Fazenda contabiliza uma queda menos acentuada nas linhas do crédito rural, de 9%, pois considera valores que foram contratados no período, de R$ 29,4 bilhões. Esse dado não é público e engloba operações que ainda não tiveram desembolso efetivo de dinheiro da instituição financeira ao credor, mas já constam no sistema de informações sobre as contratações do Banco Central.

“Apesar de todos os problemas, com o aumento de taxas de juros, temos um desempenho parecido com o do ano passado. Deve-se considerar também que, neste ano, demorou mais para ser publicada a portaria de equalização”, afirmou o subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt.
A norma foi publicada em 14 de julho. As linhas com recursos equalizados pelo Tesouro Nacional, as mais atrativas do Plano Safra, só puderam ser acessadas na metade final do mês.

O secretário-adjunto de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Wilson Vaz de Araújo, disse que há cautela no início da temporada, mas que os resultados não dão a tônica para a safra inteira. “Alguns bancos estavam com a base de aplicação alta e estão mais contidos agora por conta do aumento do endividamento e da inadimplência. E o produtor está medindo o tamanho do passo que vai dar”, afirmou.

Segundo ele, diante da menor liquidez no campo, algumas instituições podem estar pedindo garantias reais para a concessão dos novos financiamentos.

Operações

A principal queda nos valores desembolsados em julho foi nas operações de investimentos, de R$ 5,5 bilhões para R$ 1,9 bilhão. A diminuição já era esperada pelo governo federal por conta da alta nos juros nesta temporada e de incertezas no mercado. Para médios e grandes produtores, as alíquotas variam de 8,5% a 13,5% ao ano.

O Moderfrota, maior programa de financiamento de máquinas e implementos agrícolas, teve o pior julho desde 2014. Os desembolsos na linha ficaram em apenas R$ 71,8 milhões contra R$ 671,2 milhões em 2024. Foram 212 contratos firmados no mês passado ante mais de 1,4 mil no mesmo período do ano anterior.

O desempenho do programa em safras recentes de juros mais baixos, como as de 2020 e 2021, ficou acima de R$ 1 bilhão em julho. O presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão Bastos, disse que o resultado é “normal” por conta dos atrasos na operacionalização do Plano Safra. As linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) só ficaram disponíveis na terceira semana do mês.

“Houve muito pouco tempo para usufruir do Plano Safra em julho”, afirmou. Mesmo assim, ele disse que o movimento de compra de máquinas agrícolas “foi muito fraco” no mês. O tarifaço dos Estados Unidos sobre o Brasil também influenciou com “uma dose extra de instabilidade no mercado”.

As estatísticas de vendas em julho ainda não foram consolidadas pela entidade. O desempenho no primeiro semestre estava 20,7% superior ao do mesmo período de 2024. Agora, as fabricantes apontam um ritmo menor e alta de apenas 2% no segundo semestre. “Quem vai fazer investimento, vê a confusão e já para”, apontou.

Café e pecuária, dois setores afetados pelas tarifas, representam 15% do faturamento das empresas de máquinas e equipamentos agrícolas. “Tem impacto direto nas vendas. O produtor de soja não é afetado, mas pisa no freio com a imprevisibilidade”, disse. “Com certeza, retrai. Ficou muito mais difícil fazer previsão de venda. Ficou mais nebuloso”, concluiu.

Consultado, o BNDES informou que em menos de 30 dias da abertura da linha, o Moderfrota já teve aprovado mais de 40% do volume de recursos disponíveis para a temporada, de R$ 5,3 bilhões. Desses, apenas R$ 2,6 bilhões podem ser contratados até dezembro de acordo com nova regra dessa safra. “O ritmo da demanda mostra que, até o final da safra, todo o volume disponível será contratado”, disse.

Outros mecanismos também podem ser usados para a compra de máquinas, cujos dados não são contabilizados pelo BC, como a emissão de títulos ou a linha em dólar do BNDES.

A única alta no primeiro mês da safra 2025/26 foi nas operações para industrialização, de R$ 1,6 bilhão para R$ 2,3 bilhões. Houve quedas pontuais também no acesso ao Pronaf (pequenos) e ao Pronamp (médios produtores). A retração mais acentuada foi nos programas destinados aos grandes produtores, com valores que saíram de R$ 18,6 bilhões em julho de 2024 para R$ 12,4 bilhões agora.

“O investimento caiu por conta da conjuntura do setor, que recomendava redução de alavancagem dos produtores. Também por conta dos ‘soluços’ orçamentários na liberação da equalização, do aumento do custo de captação de recursos de mercado a serem equalizados e das prorrogações de dívidas”, disse José Carlos Vaz, consultor jurídico do Agronegócio.

Movimento semelhante com os demais produtores ocorreu em toda a safra passada, já que houve um “olhar mais crítico” das instituições financeiras na concessão de crédito mesmo a juros livres por conta da sensação de risco, avaliou Gilson Bittencourt.

Outra questão que “trava” os desembolsos são os recursos obrigatórios, oriundos de depósitos à vista nos bancos, que estão comprometidos com prorrogações e renegociações de parcelas. “Talvez só nos próximos meses esse dinheiro voltará aos caixas das instituições financeiras e poderá ser emprestado”, completou o subsecretário.